postado em 16/01/2010 10:14
Milhares de pessoas se despediram ontem da coordenadora internacional da Pastoral da Criança, Zilda Arns, no Palácio das Araucárias, sede do governo do Paraná, em Curitiba. Segundo a Polícia Militar, até a noite de ontem, cerca de 5 mil visitantes haviam comparecido ao velório da médica sanitarista, morta no terremoto que atingiu o Haiti na terça-feira. O corpo chegou às 10h20 e foi recebido por cerca de 50 familiares. Depois, seguiu em um caminhão do Corpo de Bombeiros até o palácio. O caixão foi coberto com uma bandeira do Brasil e permaneceu fechado o tempo todo.
Por volta das 15h, dom Geraldo Majella Agnelo, cardeal primaz do Brasil, arcebispo de Salvador e cofundador da Pastoral da Criança, celebrou missa com a presença de cerca de 300 pessoas no palácio. Em nota, a família de Zilda pede que, em vez de enviarem coroas de flores, as pessoas façam doações para o trabalho da Pastoral. "Essa seria a melhor maneira de homenagear concretamente a dra. Zilda Arns Neumann, ajudando com isso a salvar vidas", diz a família na nota.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou às 20h15, após cumprir agenda no Maranhão, onde, em Bacabeira, pediu um minuto de silêncio pelas vítimas da tragédia que assolou Porto Príncipe. Por medidas de segurança, a visitação foi interrompida para a chegada do presidente. "Eu disse à família que todos vão chorar pelo que aconteceu, mas o que a Zilda pregou durante a vida dela eu espero que tenha ficado gravado na mente das pessoas. E que todos nós sejamos mais solidários", afirmou. "A Zilda foi uma pessoa que lutou pela qualidade de vida dos idosos, das crianças e das pessoas carentes. Ela era uma pessoa que fez disso a sua vida. O que ela fazia serviu de exemplo para muita gente, fazendo o que ela gostava, que era visitar as pessoas pobres em todos os lugares do país", acrescentou.
Lula chegou ao Aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais (PR), com uma comitiva de 15 pessoas. Entre elas, assessores e a ministra Dilma Rousseff. Antes do desembarque do presidente, o senador Eduardo Suplicy apareceu no espaço reservado para o velório e cumprimentou os parentes da médica. O governador do Paraná, Roberto Requião, anunciou que pedirá ao presidente Lula que indique Zilda Arns ao Prêmio Nobel da Paz post mortem. Ela já havia sido indicada ao prêmio em 2001. "Se o presidente não encampar essa campanha, o Paraná todo vai encampar", disse o governador paranense. Lula concordou com a proposta e disse que criará um prêmio nacional com o nome de D. Zilda para pessoas que promoveram ações de segurança alimentar no país. O Comitê Nobel jamais concedeu a honraria em caráter póstumo.
Imortalizada
O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), disse que a fundadora da Pastoral da Criança ficou imortalizada por meio de seu trabalho. "Se alguém no Brasil, individualmente, foi responsável pela queda da mortalidade infantil e pela vida de nossas crianças, foi a dona Zilda Arns. Ninguém, individualmente, fez mais que ela", disse o governador, que esteve por volta das 16h30 no velório. Por diversos momentos, Serra embargou a voz ao falar de Zilda Arns. O governador paulista destacou que tinha uma relação pessoal com ela e que eles chegavam a trocar ideias e conselhos na área política. "Ela não assumia posições políticas de forma pública, mas, pessoalmente, sempre me incentivou em todas as campanhas e disputas de que participei", afirmou. "Dom Helder Câmara dizia que existem pessoas que a gente não enterra, mas semeia. É o caso da dona Zilda."
Outras autoridades também compareceram ao velório, como o presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP), o senador Flávio Arns (PSDB-PR), sobrinho de Zilda, e o chefe do Gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, além de familiares, amigos e integrantes da Pastoral da Criança. A senadora Marina Silva (PV-AC), pré-candidata à Presidência da República, deve ir a Curitiba hoje pela manhã para participar do velório. A previsão é de que o enterro seja por volta das 16h.
O Vaticano enviou ontem mensagem oficial de condolências ao cardeal dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo, pela morte da irmã. Na mensagem, dom Giovanni Battista Re, prefeito da Congregação para os Bispos, expressa a dor que sentiu pela notícia da "trágica" morte de Zilda. Segundo ele, o trabalho dela na Pastoral da Criança vai "enchê-la de plenitude na recompensa divina". Battista Re afirma que o exemplo de Zilda Arns continuará a ajudar crianças e idosos nas regiões mais pobres do mundo.
"A Zilda foi uma pessoa que lutou
pela qualidade de vida dos idosos, das crianças e das pessoas carentes. Ela era uma pessoa que fez disso a sua vida"
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República
"Eu disse à família que todos vão chorar pelo que aconteceu, mas o que a Zilda pregou durante a vida
dela eu espero que tenha ficado gravado na mente das pessoas. E que todos nós sejamos mais solidários"
Lula
"Dom Helder Câmara dizia que existem pessoas que a gente não enterra, mas semeia. É o caso da dona Zilda"
José Serra, governador de São Paulo