Agência France-Presse
postado em 17/01/2010 11:30
Milhares de pessoas famintas andam pela devastada Porto Príncipe em busca da ajuda internacional, que chega a conta-gotas, cinco dias após o terremoto que deixou dezenas de milhares de mortos, ao mesmo tempo que a ONU ainda acredita na possibilidade de encontrar sobreviventes.O grande terremoto de terça-feira, de 7,0 graus na escala Richter, teria provocado entre 40.000 e 50.000 mortes, anunciou a Organização Mundial da Saúde (OMS), e representa segundo a ONU o maior desastre natural que as Nações Unidas já enfrentaram em sua história.
Os pedidos de ajuda receberam respostas e dezenas de aviões chegam diariamente à ilha caribenha com ajuda internacional, mas a distribuição é dificultada por uma logística caótica.
"Dizem que o governo está recebendo milhões, mas nós não vimos nada. Vivemos na rua com nossos filhos e temos que ir embora", lamenta Islaine, que assim como muitos haitianos decidiu trocar Porto Príncipe por outra província.
Em "Cité Soleil", o grande bairro pobre de Porto Príncipe, os habitantes se sentem completamente abandonados.
"Os únicos caminhões que passam por aqui estão cheios de mortos", diz uma mulher.
Ao mesmo tempo que a coordenação é processada, centenas de lojas, prédios públicos e casas da capital são saqueados diante da impotência da polícia, que tem ordens para não abrir fogo.
Até as tentativas de distribuir alimentos a partir de helicópteros podem terminar em tumulto.
O som de tiros é cada vez mais frequente, assim como a presença de homens armados com facões. No sábado, dois dominicanos foram gravemente feridos a tiros quando faziam trabalho humanitário.
O Palácio de Justiça ardia em chamas, enquanto dezenas de corpos em estado de putrefação eram incinerados.
"A moral das equipes de resgate continua sendo muito boa, apesar das dificuldades e das condições em que têm que trabalhar", afirmou no entanto neste domingo à AFP em Genebra Elisabeth Byrs, porta-voz do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU.
Ela destacou que as Nações Unidas ainda tem esperanças de encontrar sobreviventes sob os escombros.
Mas em Porto Príncipe os voluntários perguntam quantos dias uma pessoa pode aguentar sem beber a uma temperatura superior a 30 graus, como a registrada atualmente no Haiti.
"Alguns acabam morrendo em consequência dos ferimentos, desidratados ou de traumas cerebrais", afirma o médico costarriquenho Andrés Madrigal.
Mais de 40 equipes internacionais com 1.739 voluntários e 161 cães farejadores já percorreram 60% das áreas mais afectadas pelo tremor.
Para os sobreviventes a situação é desesperadora. As autoridades calculam 250.000 feridos e 1,5 milhão de desabrigados.
A organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) afirmou neste domingo "nunca ter visto tantos ferimentos tão graves".
A ONG manifestou preocupação ainda com a situação no aeroporto de Porto Príncipe, que obriga o desvio de cargas importantes.
A administração do aeroporto pelos Estados Unidos criou tensões diplomáticas depois que um avião com um hospital de campanha a bordo teve que retornar para a República Dominicana.
No aeroporto em colapso, dezenas de pessoas dormem no asfalto, já que não podem deixar o país. Alguns chegaram a ameaçar invadir a pista.
A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, que chegou no sábado a Porto Príncipe, rebateu as críticas e garantiu que os Estados Unidos estão dispostos a ajudar o Haiti "hoje, amanhã e no futuro".
Mas a falta de coordenação é a apenas uma parte do desastre que afeta a nação mais pobre das Américas.
Em Leogane, a 17 km de Porto Príncipe e epicentro do terremoto, 90% dos imóveis desabaram, segundo a ONU.
"Este é realmente o epicentro do terremoto e muitas, muitas pessoas morreram. Os militares falam de 20.000 a 30.000 mortos", conta David Orr, do Programa de Alimentos Mundial (PAM).
O Conselho de Segurança da ONU vai se reunir na segunda-feira para discutir a coordenação da ajuda. A reunião terá a presença do secretário-geral da organização, Ban ki-moon, que visitará o Haiti neste domingo.
O presidente hatiano, René Preval, viajará na segunda-feira a Santo Domingo para assistir a uma reunião preparatória para "cúpula mundial pelo Haiti" convocada para reconstruir o país.