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Sobreviventes ainda são encontrados cinco dias depois do terremoto

Agência France-Presse
postado em 17/01/2010 21:35

PORTO PRÍNCIPE - Os "milagres" e a violência se alternavam neste domingo (17) no Haiti, com a descoberta, cinco dias depois do terremoto, de mais pessoas vivas entre as ruínas de uma Porto Príncipe, onde aumentam os saques e os sobreviventes vagam famintos sob um sol escaldante.

Um dinamarquês membro da Missão de Estabilização da ONU no Haiti (Minustah) foi resgatado neste domingo em bom estado de saúde, depois de ter permanecido quase cinco dias embaixo dos escombros. "Acabaram de resgatá-lo sem um arranhão", declarou um alto funcionário da Minustah, que pediu para não ser identificado, ao se referir ao sobrevivente Jen Kristensen.

Na manhã deste domingo os socorristas tinham resgatado três pessoas entre os escombros de um supermercado: uma criança de 7 anos, um homem de 34 e uma mulher de 50, que tiveram a sorte de estar cercados de alimentos. Uma quarta pessoa, um homem, permanecia vivo sob os escombros à espera de sua retirada.

Essas quatro pessoas se somam aos 70 sobreviventes encontrados até agora sob os escombros de Porto Príncipe pelas 43 equipes internacionais no local, que chegam a 1.739 socorristas e 161 cães.

As equipes conseguiram chegar a 60% das áreas mais afetadas pelo terremoto.

"O moral das equipes de socorro continua muito bom, apesar das dificuldades e das condições" em que têm que trabalhar, declarou neste domingo à AFP em Genebra Elisabeth Byrs, porta-voz do Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU.

Por outro lado, a situação das milhares de pessoas desamparadas que vagam pelas ruas sob o forte calor é "desesperadora", segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

Perambulando em meio aos corpos que ainda estão acumulados em vários pontos, elas tentam encontrar uma ajuda internacional que chega a conta-gotas e imploram por assistência médica em hospitais lotados, cinco dias depois do terremoto de magnitude 7 que, segundo a OMS, pode ter deixado entre 40.000 e 50.000 mortos.

Algumas dezenas foram, como de costume, à missa na catedral. Vendo o templo destruído, o sacerdote Henry Marie Landasse ergueu as mãos para o céu e exclamou: "há coisas difíceis de entender sem os olhos da fé".

E a verdadeira magnitude do desastre emerge lentamente.

Em Leogane, a 17 km de Porto Príncipe e epicentro do terremoto, 90% das construções estão destruídas, segundo a ONU. "Este é realmente o epicentro do terremoto e muitas, muitas pessoas morreram", afirma David Orr, do PAM. "Os militares falam de 20.000 a 30.000 mortos".

A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) abriu um hospital de emergência em Carrefour, distrito próximo a Leogane, e lançou um apelo urgente para que os veículos que transportam material médico possam chegar o quanto antes possível.

Já as equipes da ONG Médicos do Mundo (MDM) indicaram neste domingo que a situação é "catastrófica" e lamentaram não ter outra alternativa a não ser amputar várias vítimas cujos membros foram esmagados durante o violento sismo.

O som de tiros é cada vez mais frequente, assim como a presença de homens armados com machetes. No sábado, dois dominicanos foram gravemente feridos a tiros enquanto participavam dos trabalhos humanitários.

Neste domingo, a Polícia haitiana abriu fogo contra um grupo de saqueadores, matando pelo menos um deles.

Em "Cité soleil", bairro mais pobre de Porto Príncipe, os moradores se sentem "completamente abandonados": "os únicos caminhões que passam por aqui estão cheios de mortos", disse uma mulher. "Dizem que o governo está recebendo milhões, mas não vimos nada. Vivemos na rua com nossos filhos e temos que andar", lamenta Islaine, que, assim como muitos haitianos, decidiu deixar Porto Príncipe para ir a outra província.

As autoridades estimam que 250.000 pessoas ficaram feridas e 1,5 milhão estão desabrigadas.

No plano diplomático, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, chegou neste domingo ao Haiti para percorrer as ruínas da sede da missão da ONU na capital e se reunir com o presidente René Preval. O Conselho de Segurança da ONU indicou que se reunirá na segunda-feira para discutir a coordenação da ajuda.

O presidente do Haiti, René Preval, viajará na segunda-feira para Santo Domingo para assistir a uma reunião preparatória da "cúpula mundial pelo Haiti", convocada para reconstruir o país. Nesse mesmo dia, o presidente do BID, Luis Moreno, chegará a Porto Príncipe para discutir a ajuda da organização.

O ex-presidente norte-americano Bill Clinton, enviado especial da ONU ao Haiti, também viajará para esse país na segunda-feira para fornecer ajuda e se reunir com dirigentes haitianos e sobreviventes, informou a sua fundação.

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