Renato Alves
postado em 18/01/2010 23:02
; Enviado especialBoa Vista (RR) -- Estou a caminho de Porto Príncipe, capital do Haiti, na companhia do repórter-fotográfico Breno Fortes. Temos a missão de dimensionar, por meio de textos, fotos e vídeos, o tamanho da catástrofe da ilha caribenha. Dar voz e rosto ao drama vivido por milhões de haitianos desde o devastador terremoto de 12 de janeiro. Missão difícil e arriscada.
Seguimos em um Boeing 737-200 da Presidência da República. A bordo, além da tripulação de militares da Força Aérea Brasileira (FAB), há 34 jornalistas brasileiros, um diplomata, um assessor do Ministério da Defesa e outro da Presidência da República. Saímos de Brasília às 17h30 desta segunda-feira (18/01) e chegamos a Boa Vista três horas e meia depois.
Antes da partida, militares da FAB e do Exército reuniram-se com os jornalistas para uma série de instruções. Quase todas relativas à segurança. Todos tiveram que assinar uma declaração de adesão, um termo de responsabilidade. Entre os nove itens, destacado em negrito, o quinto me chamou mais a atenção (e de muitos colegas, certamente): ;Estou ciente dos riscos e ameaças inerentes às atividades propostas...;
Controle dos EUA
O aeroporto de Porto Príncipe não permite mais vôos civis. É possível chegar por terra à capital haitiana. A cidade é ligada à República Dominicana. Os dois países dividem a mesma linha. Por uma estrada de asfalto, são cerca de oito horas, sem parar. Mas há dois problemas: o risco de ser assaltado e até morto no caminho e a falta de combustível do lado haitiano.
Teremos uma ;janela; de 40 minutos para descermos em Porto Príncipe ; 20 minutos antes e 20 minutos depois do horário estabelecido para o pouso: 10h dessa terça-feira (19/01) ; hora local; 13h em Brasília. Sem radar ou qualquer outro equipamento, o aeroporto da capital haitiana é controlado pela força aérea norte-americana.
;O aeroporto, na verdade, hoje é um aeródromo, uma pista de pouso. Lá não pousa mais avião civil. A pista vive cheia de aeronaves militares e carros, caminhões, tratores, que transportam o material enviado para ajuda humanitária;, observou um dos militares a bordo do nosso voo. Ele esteve no Haiti há cinco dias.
A tal janela de 40 minutos é o tempo para o desembarque. Nesse período, cada passageiro pegará a quantidade de bagagem que julgar ter condições de levar consigo. Dois veículos do Exército Brasileiros estarão à nossa espera. Seguiremos do aeroporto até uma das bases do Exército, em um tour pelos horrores da capital devastada.
A intenção dos militares é mostrar o drama do povo haitiano, as dificuldades das equipes de socorro e o trabalho dos brasileiros para manter a ordem no país, salvar vidas e cuidar dos feridos. A Aeronáutica brasileira montou, ontem (17/01), seu hospital de campanha, onde já realiza cirurgias.
Segurança
O Boeing que nos deixará em Porto Príncipe retornará a Boa Vista assim que fechar a janela de 40 minutos. E voltará ao Haiti no fim da noite. São quase três horas de voo entre um lugar e outro.
Como metade do grupo de jornalistas que deixou Brasília nessa segunda, eu e Breno Fortes pretendemos ficar no Haiti por alguns dias. Como todos, precisamos de alguma garantia de segurança e sinal para transmissão de imagens. Buscaremos abrigo em uma base militar. Ainda não sabemos se seremos aceitos.
Além do equipamento fotográfico, telefones celulares e câmeras de vídeo, levamos na bagagem sacos de dormir, algumas garrafas de água mineral, barras de cereal, isotônicos, macarrão instantâneo, medicamentos e outros produtos para sobrevivência.
Tudo para registrar os dramas e as conquistas de uma tragédia que parece ser infinita.