Mundo

Barack Obama conclui primeiro ano de mandato sob risco de fracasso

postado em 20/01/2010 08:32
Há exatamente um ano, Barack Obama assumia a Presidência dos Estados Unidos cheio de promessas e acompanhado da mais alta expectativa que se pode ter sobre um novo governante. Dentro e fora de seu país, o novo presidente - o primeiro negro - da nação mais poderosa do planeta era visto como uma espécie de super-herói pronto para não só salvar os EUA de uma profunda crise econômica como mudar tudo o que de nocivo havia sido deixado por seu antecessor. Depois de 12 meses, no entanto, o que se vê é uma série de decisões que não chegaram a se concretizar, um projeto que era para ser o carro-chefe de seu primeiro ano ainda não aprovado e um país cada vez mais dividido entre republicanos e democratas, contrariando o bipartidarismo que Obama tanto pregou. [SAIBAMAIS]"O problema é que Obama não trouxe reais mudanças. A economia ainda sofre com 10% de desemprego e os americanos estão perdendo a esperança de que o presidente mude Washington", pontua o especialista da Fundação Heritage Brian Darling. De fato, desde que assumiu o posto, o democrata se concentrou em desfazer ações tomadas pela administração anterior, anunciando, por exemplo, o fechamento da prisão de Guantánamo e o início da retirada das tropas do Iraque - guerra que nunca apoiou e que prometeu encerrar em seu mandato. A primeira delas não foi concluída no prazo, e a última seguiu o cronograma, mas teve um efeito não esperado pela Casa Branca: o aumento da violência no país ocupado. A especialista em política americana Cristina Pecequilo, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), acredita que era necessária essa negação do legado deixado pelo ex-presidente George Bush, mas que Obama não teve "jogo de cintura" para começar a traçar seu próprio caminho. "Ele fez muito bem essa limpeza inicial de agenda. O problema está no salto da limpeza de agenda%u2019 para aquilo que é, efetivamente, o governo dele. Ele fez muito no nível da retórica, mas falta resultado concreto", afirma Pecequilo. Para ela, Obama "ficou devendo ao seu eleitor", e isso se refletiu nas pesquisas de opinião, que, na última semana, apontavam apenas 50% de aprovação - contra 62% de seu primeiro mês. Limitações Mark Katz, professor da George Mason University, credita a aparente insatisfação com o governo às altas expectativas criadas sobre Obama. "Tanto os americanos quanto o mundo esperaram muito dele. Mas a verdade é que, mesmo que os EUA sejam o país mais poderoso do mundo, o presidente americano é muito mais fraco do que um chefe de Executivo na maioria das outras democracias", pondera Katz, lembrando o poder que o Congresso americano tem para barrar projetos do Executivo. Brian Darling, contudo, destaca que a alta expectativa dentro e fora dos EUA foi gerada pelo próprio político. "O povo americano e o mundo aguardavam muito porque Obama prometeu muito. Quando você promete esperança e mudança, leva as pessoas a esperar", observa. O cientista político William Allen, da Universidade de Michigan, concorda com Darling. "Obama era um demagogo atraente na campanha, que fez promessas demais. As pessoas nos EUA e no mundo estavam dispostas a acreditar, por causa de uma fé ingênua na mudança %u2018progressiva", afirma. Para Katz, contudo, deixar de cumprir promessas no primeiro ano não foi intencional. "Obama assumiu com excelentes intenções, mas percebeu que colocá-las em prática seria muito difícil durante seu primeiro ano", destaca. "E, em 2010, a situação não deve ficar mais fácil", prevê. Realmente, em ano de eleições parlamentares, a situação pode ficar ainda pior para o presidente, já que ele corre sério risco de perder sua maioria absoluta no Congresso. Sob essa ameaça, Obama terá de continuar pressionando senadores e deputados democratas para aprovarem, o quanto antes, a reforma do sistema de saúde - uma das principais apostas de seu primeiro ano que foi "empurrada" para 2010. "Se ocorrer uma reversão do quadro no Congresso e se desenhar um cenário muito ruim para os democratas, há o risco de se abandonar a discussão sobre a reforma da saúde", afirma Pecequilo. "Isso seria fatal para os democratas, porque foi algo que eles colocaram na mesa", completa. Para os especialistas ouvidos pelo Correio, o fato de a reforma não ter sido aprovada no primeiro ano de Obama na Casa Branca pode, certamente, ser visto como uma derrota. "Essa iniciativa é uma de suas propostas mais importantes, e o fato de ela não passar se transformou em uma perda embaraçosa para o presidente", destaca Darling. Apesar de assumir que gostaria de ver uma "ação mais rápida" do governo quanto à reforma de saúde, o cientista político da Universidade da Carolina do Norte Frank Baumgartner ressalta que o "primeiro ano" é um "prazo artificial, um simples aniversário". "O que importa é o que ele vai fazer antes das eleições de meio de mandato e nos seus quatro anos no poder."

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação