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Morales é ungido em cerimônia indígena antes de iniciar segundo mandato

Agência France-Presse
postado em 21/01/2010 18:00

TIWANAKU - O presidente Evo Morales foi ungido nesta quinta-feira como líder espiritual dos indígenas da Bolívia, na cidade de Tiwanaku, pelas mãos de uma centenária mulher aymara, um dia antes de assumir seu segundo mandato que vai até 2015.

O complexo de Tiwanak, 70 km a oeste de La Paz, a 3.800 metros de altura nos Andes bolivianos, foi o cenário da cerimônia religiosa para Morales, o primeiro indígena a chegar a presidência da Bolívia desde a fundação do país, em 1825.

A pirâmide de Akapana ("daqui se mede"), a maior construção lítica da América do Sul, e o templo religioso de Kalasasaya ("local das pedras verticais"), foram os dois sítios eleitos, onde o presidente pediu aos deuses andinos sabedoria para governar.

O ritual começou logo que Morales se vestiu com um "uncu" branco (uma manta retangular) de lã de lhama e um "chucu" (gorro de quatro pontas) que representa a união dos pontos cardeais.

Morales, acompanhado por amautas (sábios indígenas) homens e mulheres, começou sua peregrinação primeiro por Akapana, onde no cume colocaram móveis que serviam de pontos de referência, pedindo a sabedoria dos deuses andinos: o "pai sol" (Viracocha) e a "mãe terra" (Pachamama).

Em cada ponto, o presidente juntava as mãos numa espécie de oração, enquanto os xamãs aymaras utilizavam um incenso para que a energia de suas preces renasça, às portas do início do segundo governo.

Depois, Morales foi até Kalasasaya, onde recebeu de crianças aymaras dois bastões de comando que representam a dualidade entre o racional e o intuitivo, e entre o masculino e o feminino.

Ali, num clima frio e com muito vento e na frente de milhares de pessoas, entre indígenas bolivianos e de outros países latino-americanos, além de convidados do governo, o presidente proclamou o fim da velha república e o nascimento do "Estado Plurinacional".

Para o presidente, este 22 de janeiro é um tipo de segunda independência do país.

Em seu discurso, também aproveitou para atacar o sistema capitalista que ele pretende substituir por um tipo de "socialismo comunitário". "Os povos do mundo devem ficar de pé, nunca de joelhos para o capitalismo", falou Morales diante de milhares de pessoas e logo demarcou: "este é um processo sem retorno, irreversível (porque) os povos decidiram se libertar do imperialismo norte-americano".

O presidente, que em seus quatro anos de governo aplicou uma política com conteúdo indígena e estatizador, começará na sexta-feira seu segundo mandato, com um ato oficial que se realizará em La Paz, sede da nova Assembleia Legislativa Plurinacional.

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