PORTO PRÍNCIPE - A distribuição de ajuda em quantidade significativa começou nesta sexta-feira, em Porto Príncipe, onde, dez dias após o terremoto devastador, aparecem os primeiros sinais tímidos de normalização.
Apesar de dois tremores secundários que voltaram a abalar nesta sexta-feira a capital haitiana, uma longa fila de sobreviventes serpenteava em torno do palácio presidencial esperando com calma a entrega de água e alimento. Capacetes azuis brasileiros distribuíam dez toneladas de rações alimentares, 22.000 litros de água - uma quantidade capaz de nutrir 4.000 famílias por três dias.
Mais distante na capital, o Programa Alimentar Mundial (PAM) iniciava o atendimento a 27.000 pessoas com distribuição de ajuda num estádio de futebol, no bairro de Delmas, segundo o porta-voz do PAM, David Orr.
Diante do palácio presidencial, hoje em ruínas, no Champ de Mars, a embaixada da França e organizações internacionais começavam a erguer 600 barracas para abrigar 3.000 pessoas, declarou à AFP o embaixador Didier Le Bret.
Vinte mil barracas para alojar outras 100.000 já foram levantadas em Porto Príncipe, segundo a porta-voz do Birô de Coordenação dos assuntos Humanitários da ONU (Ocha), Elisabeth Byrs. Mais 20.000 tendas estão sendo aguardadas.
Segundo a ONU, o porto da capital estava "parcialmente operacional", assim como 30% dos postos de gasolina. "A maior parte dos supermercados abrirão na semana que vem", segundo o assessor Vincenzo Pugliese.
Segundo ele, a companhia aérea americana Delta Airlines prevê garantir dois voos comerciais por semana a partir de 26 ou 27 de janeiro.
A ONU anunciou nesta sexta-feira que "as equipes de socorro se concentram mais e mais na ajuda humanitária" a 3 milhões de pessoas. "As equipes de resgate, esgotadas, começam a voltar para casa", explicou Byrs à AFP. "Muitas, munidas de equipamentos pesados ainda retiram corpos dos escombros, explicou.
As agências da ONU estimam entre "500.000 e 700.000" o número de pessoas desabrigadas na capital.
O encaminhamento da ajuda continua difícil. Por exemplo, nos dez quilômetros que separam Porto Príncipe da cidade de Carrefour, foram constatados "691 bloqueios de estradas causados por destruições.
No entanto, desde o terremoto do dia 12 de janeiro, o equivalente a 4,2 milhões de refeições foram distribuídas a 250.000 pessoas. Nos locais onde as pessoas dispõem de utensílios de cozinha e fogões, o PAM começou a distribuir arroz, feijão, óleo e sal. A expectativa é atender 100.000 pessoas por dia.
O PAM prevê, igualmente, liberar com urgência 45.600 litros de combustível no país. Cerca de 38.000 litros foram entregues na terça-feira e 34.000 litres na quarta.
Os Estados Unidos enviaram reforços militares que deverão chegar a quase 20.000, domingo, ao longo da ilha.
Segundo o general Mike Dana que supervisiona a logística militar americana, o porto da capital será abastecido com combustível durante o final de semana. "Em três semanas, funcionará com sua capacidade máxima", disse ele.
Na segunda-feira, "países amigos" do Haiti, entre eles Estados Unidos, França e Brasil, realizarão em Montreal uma reunião de emergência para coordenar sua ajuda e para preparar uma conferência sobre a reconstrução do país, em março.
A ONU lançará por uma vez o programa "dinheiro por trabalho" que permitirá aos haitianos receberem cinco dólares por dia para participar dos trabalhos de retirada de entulho, limpeza e reconstrução.