Agência France-Presse
postado em 23/01/2010 12:00
BAGDÁ - O vice-presidente dos Estados Unidos, Joseph Biden, expressou neste sábado (23/1) durante uma visita ao Iraque o desejo de ver legislativas "confiáveis" neste país, e tratou de conter a polêmica crescente sobre a expulsão - considerada legal por Bagdá - de candidatos ex-integrantes do partido Baath das próximas eleições.
Biden chegou ontem à noite ao Iraque para neutralizar a crise provocada pela proibição imposta a 511 candidatos ex-integrantes ou simpatizantes do partido de Saddam Hussein de participar das eleições de 7 de março.
O governo americano está preocupado com a possibilidade de que a comunidade sunita, minoritária no Iraque, boicote as eleições em resposta à expulsão destes candidatos. A Comisssão Eleitoral alega que a lista das pessoas proibidas de participar da votação inclui tanto xiitas como sunitas.
Washington quer evitar a todo custo que os sunitas se sintam marginalizados do processo político, o que poderia levar a uma repetição do cenário de 2005, quando muitos deles boicotaram as primeiras legislativas organizadas no país após a queda de Saddam Hussein e se juntaram aos movimentos rebeldes aliados da Al-Qaeda, mergulhando o país no caos e na violência.
Foram necessários três anos de esforços, bilhões de dólares e o sacrifício de centenas de soldados americanos para trazer uma paz relativa ao país, onde os atentados, porém, ainda são frequentes. Preocupada em não se intrometer nos assuntos iraquianos, a Casa Branca afirmou que Biden veio a Bagdá somente para dar sua "opinião".
Biden "disse que os Estados Unidos querem eleições justas, transparentes e que possam ser consideradas confiáveis tanto pelo povo iraquiano como no exterior, mas que o meio de conseguir tais eleições é assunto nosso", afirmou à AFP o ministro das Relações Exteriores, Hoshyar Zebari. "Não vim ao Iraque para definir um acordo. O presidente Barack Obama e eu defendemos firmemente a aplicação do artigo 7 da Constituição, que proíbe o partido Baath", afirmou Biden, segundo um comunicado publicado pelos assessores do primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki.
Maliki reiterou que as expulsões não são dirigidas exclusivamente aos sunitas e são conformes à lei. "A aplicação da lei sobre a integridade e a justiça foi feita no respeito dos mecanismos constitucionais e legais, e vale para todas as listas de candidatos", insistiu.
Segundo o porta-voz do governo iraquiano, Ali Dabbagh, Maliki lembrou a Biden que os iraquianos recusam qualquer intervenção externa na resolução deste problema.
Os simpatizantes do Baath, acusados pelo poder xiita de estar por trás dos atentados dos últimos meses no Iraque, são execrados pelo primeiro-ministro, que comparou sua exclusão à proibição do partido nazista na Europa após a Segunda Guerra.
"Não pretendemos nos reconciliar com os que consideram Osama bin Laden como um dos líderes muçulmanos, ou os que acreditam que Saddam Hussein é um mártir", avisou Maliki na terça-feira.
O governo de Obama quer que as eleições legislativas transcorram sem problemas para poder retirar suas tropas de combate do Iraque e enviá-las ao Afeganistão.