Agência France-Presse
postado em 25/01/2010 16:04
A crise institucional aberta com a decisão da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, de despedir por decreto o titular do Banco Central, Martín Redrado, entrou, nesta segunda-feira, num novo capítulo, em meio à tentativa da presidente de usar reservas do BCRA para pagar parcela da dívida externa. A polícia chegou a impedir o funcionário de ingressar na sede da instituição.Redrado compareceu, domingo, com seus advogados ao Banco Central para tentar ter acesso a seu gabinete, mas policiais federais impediram a sua entrada, denunciou em comunicado.
O chefe da autoridade monetária informou que havia apresentado, inclusive, uma denúncia contra uma outra proibição, desta vez do chefe de Gabinete, Aníbal Fernández, de que ingressasse na sede do BCRA.
"Domingo à tarde policiais alegaram ter recebido uma ordem superior ignorando que ainda é o presidente da instituição", indicou Redrado na nota à imprensa nesta segunda-feira.
Semanas atrás, a presidente Cristina Kirchner destituiu-o do cargo por ter-se negado a usar reservas monetárias do país para formar um fundo de US$ 6,569 bilhões destinado a pagar parte da dívida de 2010.
"A justiça protegeu as reservas, que dão tranquilidade e permitem cuidar da poupança dos argentinos. Não tenho mais comentários, rapazes", disse Redrado nesta segunda-feira aos jornalistas que o aguardavam no portão de sua luxuosa casa.
O vice-presidente do Banco Central da República Argentina, Miguel Angel Pesce, respondia como chefe provisório da instituição e, até o início da tarde, Redrado não tentou retornar.
Redrado, no entanto, voltou a atacar o governo e disse dispor de uma lista de "pessoas amigas do poder que compraram dólares"; mas, destacou, que por enquanto não divulgará seus nomes.
Há alguns dias, Redrado, designado para o cargo em 2004, durante o governo de Néstor Kirchner (2003-07), esposo da atual presidente, havia apelado de sua demissão à juíza María José Sarmiento, quem o confirmou no cargo, ao mesmo tempo em que proibiu o uso de reservas do país para pagar a dívida.
Na sexta-feira, uma sentença da Câmara de Contencioso Administrativo ratificou a proibição do uso das reservas para pagar a dívida de 2010, embora não tivesse confirmado o nome de Redrado no cargo.
A maioria dos partidos opositores, que, no começo, haviam apoiado o chefe do Banco Central, foram reduzindo o respaldo na medida em que se estendia a crise.
Uma comissão do Congresso deve pronunciar-se nesta semana sobre a remoção de Redrado, mas essa opinião não é vinculante para o Executivo.
O governo considera que o fundo formado com reservas do Banco Central daria maior garantia aos mercados internacionais, num momento em que se prepara para lançar a troca da dívida, ainda em default, desde 2001, de 20 bilhões de dólares.
Em 2005, a Argentina renegociou 76,15% do total de sua dívida externa que havia caído em moratória, a maior da história, que dizia respeito a 90 bilhões de dólares.
As reservas do BCRA superam atualmente os 48 bilhões de dólares.