ISTAMBUL - Dois dias antes do início da conferência de Londres sobre o Afeganistão, os vizinhos deste país e a Turquia anunciaram nesta terça-feira (26), em Istambul, seu apoio ao processo de reconciliação nacional com os talibãs defendido pelo presidente Hamid Karzai.
"Apoiamos o processo nacional afegão de reconciliação e reintegração em acordo com a Constituição do Afeganistão e sob a direção dos afegãos", afirmaram em declaração comum publicada ao término de uma minicúpula dedicada a este país.
Karzai deve anunciar quinta-feira em Londres um amplo programa de reconciliação com os talibãs que não forem membros da rede Al-Qaeda.
A transferência progressiva da segurança às forças afegãs será o outro grande tema da conferência, que reunirá todos os atores do conflito afegão, com exceção dos talibãs.
Nesta perspectiva, Berlim anunciou nesta terça-feira uma "nova etapa" em seu compromisso com o Afeganistão, com o envio de mais de 500 soldados para ajudar na formação das forças afegãs, um aumento de 50%, para 430 milhões de euros, da ajuda à reconstrução, e uma verba de 50 milhões de euros para financiar o programa de "reintegração" de talibãs.
A Alemanha ainda avisou que pretende dar início à retirada de suas tropas em 2011, um prazo já definido antes pelos Estados Unidos. "Os talibãs que não atuam em uma rede terrorista como a Al-Qaeda são os filhos da terra afegã. São milhares e milhares, e devem ser reintegrados", declarou Karzai à imprensa em Istambul.
No entanto, os talibãs já avisaram diversas vezes que não pretendem negociar com o governo.
Nesta terça-feira, eles reivindicaram um novo atentado que deixou pelo menos nove feridos em Cabul, quando um carro-bomba explodiu contra um comboio da força da Otan na entrada de uma base militar americana. Segunda-feira, depois de uma reunião em Istambul com seus colegas turco, Abdullah Gul, e paquistanês, Asif Ali Zardari, o presidente afegão afirmou que pedirá em Londres a retirada de alguns talibãs da lista de sanções da ONU.
A ONU criou em 1999 um Comitê de sanções contra a Al-Qaeda e os talibãs, encarregado de estabelecer uma lista de pessoas e entidades associadas à Al-Qaeda, a Osama bin Laden ou aos talibãs suscetíveis de ter seus bens congelados ou de serem proibidos de viajar.
O emissário americano para o Afeganistão e o Paquistão, Richard Holbrooke, afirmou que as grandes potências apoiarão o plano de Karzai, desde que os talibãs se distanciem da Al-Qaeda.
Na véspera, Karzai e seu colega paquistanês Asif Ali Zardari se reuniram para abordar questões de segurança, no momento em que uma paz negociada com os talibãs no Afeganistão é cada vez mais mencionada.
Em um comunicado, a Presidência afegã indicou que Karzai discutiu com Zardari "meios eficazes de combater o terrorismo".
Esta reunião de Istambul é realizada logo depois de o comandante das forças da Otan no Afeganistão ter considerado que uma "solução política" envolvendo os talibãs é "inevitável" no conflito afegão.
A Turquia, tradicionalmente ligada a Cabul e a Islamabad e membro muçulmano da Otan, procura se colocar como mediadora entre os dois vizinhos, que mantiveram relações conflituosas até recentemente.
Hamid Karzai teve relações difíceis com o antecessor de Zardari, Pervez Musharraf, com cada um atribuindo ao outro a responsabilidade pela insegurança persistente ao longo da fronteira entre os dois países.