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Estudantes lideram atos contra Hugo Chávez

postado em 28/01/2010 07:00
;Tá derrotado; dizia a faixa carregada por estudantes venezuelanos da Universidade Católica Andrés Bello (Ucab), no terceiro dia de manifestações contra o presidente Hugo Chávez. Alunos das cinco principais universidades de Caracas acompanharam ontem os protestos em vários pontos da cidade até chegarem na praça La India. Eles se manifestam contra a repressão à liberdade de imprensa do governo de Chávez, evidenciado na segunda-feira com o fechamento de mais cinco emissoras de TV por assinatura, entre elas a RCTV.

Outros problemas também entram na pauta dos manifestantes. A estudante Miranda Ponce afirmou que as mulheres permaneceriam nas ruas e seriam as vozes dos meios de comunicação. ;Esperemos que haja luz no país e que transmitam os problemas de insegurança;, disse ela. A conselheira universitária da Ucab prometeu que amanhã haverá uma grande mobilização na capital, que sairá da praça Brion de Chacaito.

No estado de Aragua, em frente ao Palácio da Justiça, um grupo de estudantes exigiu ontem a libertação de 13 pessoas, entre elas 11 estudantes, presas na noite de terça-feira, quando protestavam contra a retirada do ar do canal RCTV. Diversas manifestações também ocorreram na cidade de Valera, estado de Trujillo, onde nasceu Marcos Rosales Suárez, estudante do Instituto Tecnológico Antonio José de Sucre, assassinado em Mérida em meio aos protestos. No fim da tarde de ontem, advogados dos estudantes anunciaram a saída dos presos da cadeia.

Segundo o professor de ciências políticas da Universidade Central da Venezuela (UCV) Trino Márquez (1), a intensidade dos protestos de ontem não foi tão forte na capital quanto em Mérida. ;As manifestações naquele estado não foram apenas contra o fechamento da RCTV, mas contra Chávez;, disse Trino ao Correio, por telefone. O analista político explica que o estado sofre há oito meses com cortes diários de energia elétrica e revela que a repressão do governo contra os estudantes de Mérida ocorreu de forma ;brutal;.

A líder estudantil da Universidade de los Andes (ULA) Gaby Arellano contou, aos prantos, em uma gravação da RCTV, divulgada no jornal El Universal, o que viu no câmpus universitário em Mérida, na terça-feira à noite. ;Centenas de estudantes ficaram feridos e foram torturados na madrugada(;). O governador diz que está tudo tranquilo, mas (;) estão nos matando;, disse a estudante.

R.M. confirmou ao Correio, via internet, que a cidade está sob tensão, com a presença de militares nas ruas. Ela vive em Mérida, em uma residência próxima ao câmpus universitário onde o estudante Marcos foi assassinado. Ela revelou que durante toda a noite de terça-feira escutou o barulho das bombas de gás lacrimogêneo. ;Na minha casa, podia-se sentir o cheiro do gás;, completou. Segundo ela, os moradores de um bairro de classe média alta também protestaram e queimaram pneus e lixo.

Outra moradora de Mérida, J.R., explicou à reportagem que alguns grupos simpatizantes do governo estavam nas ruas para apoiar a aplicação de medidas contra a RCTV, quando um grupo de estudantes da ULA lançou objetos contundentes contra os defensores do governo. ;Esses manifestantes pró-Chávez se enfureceram e queimaram 12 veículos e duas motos, e quebraram escritórios e salas de aula da Universidad de los Andes;, disse.

Nomeações
Enquanto a polícia do governo Chávez reprimia os estudantes opositores à revolução bolivariana, o presidente nomeava ontem para vice-presidente da República a um ex-líder estudantil de esquerda e atual ministro da Agricultura, Elias Jaua. Aos 40 anos, ele ocupou vários cargos de confiança em quase 11 anos de governo de Chávez, como os de secretário-pessoal e ministro da Economia Popular. Em rede nacional, Chávez expressou que ele foi eleito por sua ;transparência, vocação para o trabalho, humildade, honestidade, em todos os cargos que ocupou;. Para ministro de Defesa, Chávez escolheu o general Carlos Mata Figueroa, do Comando Estratégico Operacional, organismo responsável pelas unidades operacionais das Forças Armadas.

1 - Política ;incongruente;
O professor Trino Márquez observa com preocupação o cenário político do país. Para ele, a política de Chávez é ;incongruente;. ;O governante pede investimentos estrangeiros, mas nacionaliza as empresas no país;, diz o analista, em referência às declarações emitidas por Chávez ontem, ao destacar que ;a experiência e a capacidade de investimentos de petroleiras estrangeiras é necessária na Venezuela;. Trino observa que o clima no país é de incerteza e insegurança, e acha difícil que o presidente consiga recuperar sua popularidade, que já caiu para menos de 50%. ;Seria preciso um giro de 180 graus em sua política. A percepção que se tem hoje é de um governo que destrói tudo que toca;, ressaltou.

Ouça entrevista (em espanhol) com o professor Trino Márquez

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