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Confiante, Obama insiste em mudanças e define empregos como prioridade

Agência France-Presse
postado em 28/01/2010 08:41
Em seu primeiro discurso do Estado da União, o presidente americano, Barack Obama, afirmou que a criação de empregos será sua prioridade número um em 2010, numa tentativa de reacender a confiança da população em sua promessa de mudanças, após seu primeiro ano na Casa Branca. [SAIBAMAIS]Obama admitiu que seu governo sofreu alguns revezes ao longo de 2009 - alguns merecidos, ponderou. Falando num tom confiante, entretanto, prometeu: "nós não vamos desistir. Eu não desisto, vamos começar do zero", referindo-se às diferentes crises que enfrenta dentro e fora dos Estados Unidos. Em um longo discurso de 68 minutos, pontuado por entusiasmados aplausos, o presidente expôs seus planos e prioridades para 2010, pediu colaboração entre republicanos e democratas para avançar reformas e dedicou grande parte do tempo à economia e a questões domésticas, afirmando que sua missão agora é ajudar a classe média alquebrada pela crise. Além disso, fez uma avaliação de sua própria performance à frente do governo, que em um ano deixou de ser aprovada pela maioria dos americanos para afundar em níveis preocupantes de popularidade abaixo de 50%. No entanto, pediu apoio para levar adiante iniciativas arriscadas politicamente, como a reforma da saúde. "Fiz minha campanha com uma promessa de mudança - uma mudança na qual podemos acreditar, dizia o slogan", disse Obama, evocando os dias de sua histórica campanha eleitoral. "Neste exato momento, eu sei que muitos americanos não têm certeza se ainda podem acreditar em mudanças - ou, pelo menos, se eu serei capaz de fazê-las", estimou, acrescentando, em tom lacônico: "as mudanças não vieram rápido o suficiente". No entanto, indicou, "nunca estive tão esperançoso sobre o futuro dos EUA quanto estou hoje. Apesar de nossas dificuldades, nossa união é forte. Nós não desistimos. Nós não deixamos o medo ou as divisões deprimirem nosso espírito". Obama listou uma série de propostas e iniciativas, mas o ambiente político nos Estados Unidos este ano - com as eleições legislativas de novembro - é tão tenso, que dificilmente será possível contar com o apoio necessário para levar adiante tantas promessas. Falando sobre a polêmica reforma do sistema de saúde que tenta aprovar no Congresso - uma semana depois de ter perdido a maioria democrata no Senado -, Obama prometeu não "abandonar" sua luta para concretizar a iniciativa. "Depois de quase um século de governos democratas e republicanos, estamos muito próximos de conseguir aprovar a reforma da saúde". Ao mesmo tempo, afirmou que as ações de seu governo evitaram que o país afundasse em uma depressão semelhante à da década de 30. "Quando cheguei ao governo, no meio desta crise, percebi que se não agíssemos poderíamos enfrentar outra recessão. E nós agimos imediatamente", disse Obama. "Há dois milhões de americanos trabalhando agora, que não estariam trabalhando" se não fosse pelo pacote aprovado pelo governo para reativar a economia. Obama também falou sobre o resgate de vários bancos de investimento, responsabilizados pelo quase colapso do sistema financeiro. "Nossa tarefa mais urgente ao assumir o governo era ajudar os mesmos bancos que haviam criado essa crise", disse. "Eu odiei isso, você odiou isso, mas quando eu concorri à presidência, prometi que não faria apenas o que fosse popular, mas também o que fosse necessário". O presidente pediu ao Congresso que aprove "sem demora" uma outra lei, anunciada na noite desta quarta-feira, para estimular a criação de empregos, e afirmou que se o projeto apresentado não for forte o suficiente para recuperar o mercado de trabalho - que perdeu sete milhões de empregos nos últimos dois anos - ele o vetará até que o texto esteja de acordo com as necessidades do país. "Os empregos precisam ser nosso foco número um em 2010", declarou Obama, anunciando que destinará US$ 30 bilhões do dinheiro devolvido pelos bancos resgatados pelo governo no auge da crise, em 2008, para financiar crédito para as pequenas empresas, incentivando assim a criação de novos postos de trabalho. Obama disse também que o país precisa dobrar o volume de exportações nos próximos cinco anos, o que abriria cerca de duas milhões de novas vagas. No entanto, entre tantos pedidos feitos ao Congresso, a análise de eventuais novos acordos comerciais não estava entre eles. Obama só falou de política externa nos últimos minutos de seu discurso, claramente dominado pelas preocupações econômicas do governo, e não entrou em muitos detalhes. Rapidamente, alertou que o Irã enfrentará "crescentes consequências" se insistir em avançar seu programa nuclear. Além disso, indicou que a Coreia do Norte estava cada vez mais isolada devido à insistência de manter armas nucleares. Obama pediu à população que apoie as forças dos Estados Unidos no Afeganistão, e destacou que as tropas de combate americanas que ainda estão no Iraque voltarão para casa até o fim de agosto de 2010. Em outra tentativa de recuperar o espírito de renovação que marcou sua campanha, o presidente afirmou que trabalharia com o Congresso para anular a lei que impede homossexuais de assumirem sua orientação sexual ao servirem o exército. Buscando inspiração na história, falando sobre união e o futuro, Obama fez um apelo a democratas e republicanos que deixem de lado as disputas mesquinhas da política, "resolvam suas diferenças" e colaborem para ajudar o país a atravessar "tempos difíceis". "Estamos aqui para servir a nossos cidadãos, e não às nossas ambições", destacou o presidente. "Os Estados Unidos venceram porque escolhemos avançar como uma nação, como um povo. Mais uma vez, estamos sendo testados. E mais uma vez, precisamos atender ao chamado da história", declarou. "Vamos mostrar ao povo americano que podemos fazer isto juntos". Obama também dedicou sua fala à questão do gigantesco déficit interno americano, prometendo congelar os gastos do governo não relacionados à segurança por três anos a partir de 2011. "Como uma família que está passando por dificuldades, investiremos no que é necessário e sacrificaremos o que for possível", comparou. "Me recuso a passar este problema adiante para outra geração de americanos". Ao longo de todo o discurso, Obama enfatizou sua intenção de "aliviar o fardo da classe média", extremamente atingida pela crise, prometendo cortar mais impostos e relembrando os cortes que já foram aprovados. "Continuaremos cortando impostos para as famílias de classe média - mas não para as companhias petrolíferas, não para os bancos de Wall Street, não para quem ganha mais de 250 mil dólares por ano. Não podemos pagar por isso", declarou.

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