Agência France-Presse
postado em 28/01/2010 12:54
O presidente afegão, Hamid Karzai, assumiu nesta quinta-feira (28/01) em Londres o compromisso de "estender a mão" aos talibãs arrependidos, depois de receber a promessa de um aumento da ajuda da comunidade internacional, na abertura de uma conferência sobre o futuro do Afeganistão reunindo quase 70 países.
[SAIBAMAIS]"Temos que estender a mão a todos nossos compatriotas, sobretudo nossos irmãos desiludidos que não são membros da Al-Qaeda ou de outra organização terrorista", declarou Karzai ao apresentar seu plano de reconciliação com os talibãs, que oferece dinheiro e trabalho aos rebeldes arrependidos.
O projeto já recebeu o apoio dos principais aliados. O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, confirmou em seu discurso de abertura a criação de um fundo internacional para financiar o projeto.
"Instalamos hoje um fundo internacional destinado a financiar a paz promovida pelo Afeganistão e o programa de reintegração, que tem como objetivo dar uma alternativa econômica aos que não têm", declarou Brown.
O premiê advertiu, porém, que os insurgentes que rejeitarem as condições de reintegração serão perseguidos. "Nós venceremos, não apenas nos campos de batalha, como também nos corações e nos espíritos", acrescentou.
A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, também expressou apoio ao projeto. "Compartilhamos a posição do presidente Karzai de que uma reintegração prudente enfraquecerá os extremistas e favorecerá a estabilidade e a segurança no Afeganistão", afirmou.
"Muitos talibãs se tornam extremistas por motivos econômicos ou de política local, nem tanto por motivos ideológicos. Incentivos eficientes poderiam reintegrá-los na democracia afegã", explicou.
Para sustentar sua nova estratégia de reconcilação, Karzai anunciou a criação de "um conselho nacional pela paz, a reconciliação e a reintegração" no Afganistão.
"Uma 'jirga' (assembleia tradicional) da paz será convocada em seguida para aplicar esta reconciliação", destacou o presidente afegão, conclamando o rei saudita Abdullah a desempenhar um "papel importante" para "guiar e auxiliar" o processo de paz.
A convocação de uma jirga é essencial à aplicação do plano de reintegração", afirmaram diplomatas.
A conferência, uma das mais importantes já realizadas sobre o Afeganistão, também tem como objetivo organizar a transferência das responsabilidades ligadas à segurança das tropas aliadas às forças afegãs, que ainda estão sendo formadas.
Brown indicou que "a transferência da segurança distrito por distrito vai começar ainda este ano".
Karzai foi menos específico, anunciando a intenção de "assumir progressivamente, daqui a dois ou três anos, a segurança em um maior número de regiões" do país.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, também defendeu uma "transferência progressiva e constante das responsabilidades" às instituições afegãs. "O governo e o povo afegãos devem tomar a iniciativa para transformar as promessas em realidades", sentenciou em seu discurso.
"A conferência está num momento decisivo para a cooperação internacional destinada a ajudar a população afegã a garantir a segurança e a governar seu país", estimou Brown.
Entretanto, segundo fontes diplomáticas, nenhum cronograma de retirada dos aliados deve ser definido durante a conferência.
Hillary Clinton confirmou nesta quinta-feira que o plano da Otan para transferir a segurança aos afegãos "não é uma estratégia de saída".
"Apoiamos o plano de transição da Otan, mas que fique bem claro que não se trata de uma estratégia de saída", declarou Hillary, segundo uma cópia de seu discurso transmitida à imprensa.
Em entrevista concedida à BBC pouco antes da cúpula, Karzai avisou que seu país precisará da ajuda internacional por mais 10 ou 15 anos. "Ainda temos um período complicado pela frente", admitiu o premiê britânico.
A conferência de Londres será seguida por outro encontro internacional sobre o Afeganistão, previsto para março ou abril em Cabul.
Na véspera, no entanto, um comunicado dos talibãs afirmou que a conferência de Londres é perda de tempo, reiterando sua recusa a qualquer negociação antes da retirada das tropas estrangeiras do país.
"Houve conferências similares no passado, e nenhuma resolveu os problemas do Afeganistão, e a mesma coisa vai acontecer em Londres", afirma um comunicado do Conselho de Comando dos talibãs, recebido pela Agência France Presse.
"A Conferência de Londres tem como objetivo ampliar a invasão do Afeganistão pelas forças de ocupação, e é apenas uma perda de tempo", acrescenta o texto. "A única solução para os problemas do Afeganistão é a saída imediata de todas as tropas de ocupação".