postado em 04/02/2010 09:22
Às vésperas do 31º aniversário da Revolução Islâmica, o Irã comemorou o lançamento do foguete espacial Kavoshgar-3 (explorador, em farsi) - a nave estaria carregando um rato, duas tartarugas e vermes. Desafiador, o presidente Mahmud Ahmadinejad prometeu inovações científicas. "Essa arena é onde nós deveremos derrotar a dominação do Ocidente", declarou, em discurso transmitido por uma emissora estatal de TV. "É a primeira vez que lançamos animais ao espaço, é o início de conquistas maiores", previu o chefe de Estado.
[SAIBAMAIS]Mas a grande notícia desta quarta-feira (3/02) foi, sem dúvida, a surpreendente maleabilidade de Ahmadinejad em relação a seu programa nuclear. O líder ultraconservador já admite não ver problemas quanto a uma troca de urânio com as grandes potências.
Até então, o regime rejeitava enviar a maior parte da substância levemente enriquecida (3,5%) para a Rússia e a França, a fim de receber o combustível já altamente enriquecido a 20%. De acordo com as autoridades iranianas, o produto seria utilizado para fins civis, incluindo a geração de energia. Também ontem, Ali Akbar Salehi, diretor da organização iraniana de energia atômica, revelou que negocia com o Brasil e a França uma parceria para que ambos participem do processamento de urânio. Já o chanceler Manouchehr Mottaki citou, além do Brasil, a Turquia e o Japão como destinos do urânio. "O Irã sempre esteve disposto a trocar com o Ocidente uma parte de seu urânio levemente enriquecido por um combustível altamente enriquecido", disse Ahmadinejad, citado pela agência de notícias France-Presse. "Eu não vejo qualquer problema. Certas pessoas (no Irã) se agitam por nada", acrescentou.
Para o iraniano Nader Entessar, professor de ciência política e justiça criminal da University of South Alabama (Estados Unidos), a posição de Ahmadinejad pode não ser permanente. "Durante o encontro de outubro passado entre representantes de Irã, EUA, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha, o enviado iraniano Saeed Jalili acenou com o apoio à proposta", lembra, em entrevista por e-mail ao Correio. "O que houve foi que muitos críticos de Ahmadinejad, da área conservadora e do movimento reformista, começaram a alertar sobre a suposta falta de transparência do pacote e a ausência de garantias do Ocidente", observa.
"Assim que os ataques à proposta ocidental se tornaram mais intensos, Ahmadinejad mudou de posição e começou a repudiá-la. Agora que a crítica passou, ele novamente se coloca a favor do plano", acrescenta Entessar. O analista duvida que o aiatolá Ali Khamenei apoie a nova postura presidencial. "Se Ahmadinejad atrair críticas por sua postura volúvel, mudará de opinião novamente", alerta. Por enquanto, o governo norte-americano demonstrou boa vontade. "Se os comentários do senhor Ahmadinejad refletem uma posição atualizada, esperamos que o Irã informe a Agência Internacional de Energia Atômica", declarou Mike Hamer, porta-voz da Casa Branca. A China, aliada histórica do Irã, considera "urgente" dar continuidade às negociações sobre o programa nuclear de Teerã.
Armas próximas
Um relatório divulgado ontem pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), sediado em Londres, revela que o Irã continua a aumentar as reservas de urânio enriquecido. O documento alerta que o país terá condições de produzir armas nucleares "em breve". No entanto, sustenta que as centrífugas de gás, usadas no enriquecimento do elemento químico, dão sinais de deterioração.