Agência France-Presse
postado em 04/02/2010 18:48
Mais da metade dos deputados britânicos vão ter que reembolsar um milhão de euros de gastos irregulares, concluiu nesta quinta-feira uma auditoria independente, revelando a amplitude de um dos mais graves escândalos envolvendo a classe política do país.
A auditoria dirigida por Thomas Legg foi lançada há cerca de seis meses, depois da polêmica deflagrada em maio e junho passado pelas revelações do Daily Telegraph referentes aos abusos de muitos deputados.
Alguns pediram o reembolso de caixas de fósforos, filmes pornôs, obras de limpeza em suas propriedades ou juros em empréstimos imobiliários inexistentes.
Denunciando um sistema "fundamentalmente falho", Legg flagrou irregularidades cometidas por 390 dos 646 deputados britânicos entre 2004 e 2009, e pediu a devolução de 1,3 milhão de libras (1,48 milhão de euros).
Entre os 390 deputados flagrados, está Iris Robinson, cujo caso extraconjugal com um adolescente provocou um escândalo que respingou em seu marido, o primeiro-ministro da Irlanda do Norte Peter Robinson. De acordo com o Belfast Telegraph, Iris Robinson "inchou" em mais de 600 euros uma solicitação de reembolso para uma cama.
Thomas Legg denunciou "regras vagas", uma "falta de transparência" e a "cultura de deferência" dos funcionários encarregados de estudar os pedidos de ressarcimento.
A auditoria pode complicar os deputados na perspectiva das eleições legislativas, previstas para acontecer até o início de junho, principalmente os que já são alvo de investigação policial.
Cerca de 20 deputados, entre eles vários membros do governo, pediram demissão em meados do ano passado, abalando um pouco mais a popularidade do primeiro-ministro Gordon Brown.
O premiê respondeu ordenando a auditoria publicada nesta quinta-feira, com o objetivo de corrigir um sistema de reemboloso excessivamente generoso que chocou os britânicos, principais vítimas das medidas de austeridade pregadas para conter a crise econômica.
O porta-voz de Brown afirmou que, para o primeiro-ministro, o relatório de Legg é um meio de "restaurar a confiança" dos eleitores.
O líder da oposição conservadora David Cameron, o favorito das pesquisas para suceder a Brown no cargo de primeiro-ministro do Reino Unido, considerou "absolutamente indispensável" que os deputados devolvam o dinheiro.
Segundo a auditoria, a líder do ranking dos gastos irregulares é a trabalhista Barbara Follet, esposa do escritor milionário Ken Follet, que deverá devolver 42.458 libras (48.586 euros). Ela alega que já devolveu a totalidade da soma.