postado em 08/02/2010 08:42
Menos de uma semana depois de afirmar que o Irã não teria problemas para aceitar um eventual intercâmbio com grandes potências, o presidente Mahmud Ahmadinejad ordenou neste domingo (7/02) o início da produção de urânio enriquecido a 20%, o mais alto nível até o momento, para um reator de pesquisa em Teerã. A determinação foi dada no discurso de inauguração de uma exposição de tecnologia laser. "Agora, Dr. Salehi, comece a produzir urânio a 20% com nossas centrífugas", disse Ahmadinejad ao diretor da Organização Iraniana de Energia Atômica (OIEA), Ali Akbar Salehi. A reação ocidental foi imediata. O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, propôs uma mobilização mundial para pressionar o Irã.
[SAIBAMAIS]Ainda hoje o Irã vai informar sua decisão oficialmente à Agência Internacional da Energia Atômica (AIEA), por carta, segundo informou Salehi, poucas horas depois do discurso de Ahmadinejad. "A produção de urânio altamente enriquecido começará no dia seguinte (terça-feira) no complexo de Natanz", especificou o diretor da OIEA, em entrevista ao canal de TV estatal Al-Alam.
A iniciativa do governo de Teerã vai na contramão das negociações intermediadas pela Organização das Nações Unidas para o programa nuclear. Pela proposta, o Irã exportaria urânio com baixos níveis de enriquecimento em troca de combustível refinado. "Eu disse, vamos dar de dois a três meses e, se não estiverem de acordo, começaremos nós mesmos a produzir urânio altamente enriquecido", declarou Ahmadinejad, no discurso transmitido pela emissora de televisão estatal.
"Também dissemos recentemente: vamos fazer uma troca (de urânio iraniano levemente enriquecido por combustível enriquecido a 20% pelas grandes potências), mas somos capazes de produzir urânio a 20%", disse o presidente iraniano, acrescentando: "Começaram a brincar conosco, apesar de terem enviado mensagens de que queriam encontrar uma solução".
Apesar da ordem, Ahmadinejad afirmou que ainda há possibilidade de acordo. "A porta segue aberta para discussões, não a fechamos", disse Ahmadinejad, ressaltando que uma eventual troca de combustível nuclear entre o Irã e as grandes potências deve ser "incondicional". Vários países ocidentais acusam o Irã de tentar produzir armamento nuclear sob o pretexto de um programa civil, o que Teerã nega.
União
O anúncio de Ahmadinejad provocou grande alvoroço. Pouco depois, em Roma, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, pediu esforços conjuntos para pressionar o governo de Teerã. "Se a comunidade internacional fizer uma frente comum para pressionar o governo iraniano, acredito que ainda estamos a tempo de que as sanções e as pressões tenham efeito", declarou Gates, em uma entrevista, ao lado do colega italiano, Ignazio La Russa. "Temos que trabalhar juntos", ressaltou.
Gates afirmou que "ninguém tentou dialogar com o Irã mais sinceramente que o presidente (Barack) Obama". Assinalou ainda que a comunidade internacional deu ao governo iraniano múltiplas chances de apresentar garantias de suas intenções em relação ao programa nuclear. "Mas até agora os resultados foram decepcionantes", observou o secretário de Defesa.
O discurso do presidente iraniano também levou o Foreign Office (ministério britânico das Relações Exteriores) a expressar uma "profunda preocupação" com o que pode ocorrer a partir de agora. "Isso violaria de forma deliberada cinco resoluções do Conselho de Segurança da ONU", afirmou uma fonte do Foreign Office.
No sábado, o presidente do Parlamento iraniano, Ali Laridjani, endureceu o tom ao acusar os ocidentais de "enganar o Irã" para "roubar o urânio enriquecido". Laridjani é ligado ao Guia Supremo da República, o aiatolá Ali Khamenei, contrário ao acordo.
Pouco tempo
A despeito de o início da produção de urânio altamente enriquecido começar amanhã, o diretor da OIEA afirmou que ainda é possível um acordo para a troca de urânio entre o Irã e as grandes potências. Destacou, contudo, que resta pouco tempo, segundo a agência Fars.
A questão do enriquecimento de urânio é o eixo da divergência, já que o urânio levemente enriquecido (entre 3 e 5%) é utilizado como combustível nas centrais elétricas nucleares, mas com um enriquecimento de 90% é possível fabricar uma bomba atômica.