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Teerã anuncia 10 novas usinas nucleares até 2011

postado em 09/02/2010 08:42
Às vésperas do aniversário de 31 anos da Revolução Islâmica, o governo do Irã resolveu mostrar ao mundo que seu programa nuclear está mais ativo do que nunca. Depois de o presidente Mahmud Ahmadinejad ordenar o início do enriquecimento de urânio a 20% - bem acima dos 3,5% conseguidos até agora pelas usinas do país -, o enviado iraniano a Viena, Ali Asghar Soltanieh, afirmou que 10 novas usinas como a de Natanz serão construídas no país até o fim de 2011. Soltanieh, que formalizou ontem o anúncio de sua decisão à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), afirmou, contudo, que inspetores da agência teriam acesso completo e poderiam monitorar o processo de enriquecimento a 20%, que começa hoje. [SAIBAMAIS]As recentes decisões de Teerã motivaram reações dos países ocidentais mais envolvidos nas negociações para frear o programa nuclear iraniano. Em Paris, após um encontro bilateral, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, e o ministro de Defesa da França, Hervé Morin, defenderam novas sanções ao país. "O único caminho que nos restou, nesse ponto, me parece ser o caminho da pressão. Mas isso exigirá que toda a comunidade internacional aja junto", disse o secretário americano. O ministro francês destacou que a comunidade internacional tentou dialogar "durante meses" com o Irã, em vão. "Infelizmente, será necessário um diálogo internacional que conduzirá a novas sanções", afirmou. O chanceler francês, Bernard Kouchner, lembrou, no entanto, que não será fácil ter o apoio de todos os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU - em especial, da China - para aprovar um novo pacote de sanções. O governo brasileiro, que tem demonstrado uma aproximação cada vez maior com Teerã, se limitou a dizer que, mesmo com os anúncios dos últimos dois dias, as "conversas continuam" para tentar convencer o Irã a negociar com o Ocidente. O diretor do programa nuclear iraniano, Ali Akbar Salehi, declarou ontem, inclusive, que seu país não fechou a porta para uma eventual troca de combustível nuclear com as grandes potências. "Nossa proposta continua vigente e estamos dispostos a receber o combustível e, quando o recebermos, cessaremos o enriquecimento a 20%", garantiu. Segundo o governo iraniano, o material enriquecido a essa porcentagem é necessário para fazer funcionar reatores que servem para tratamento contra o câncer. Ontem, o governo de Ahmadinejad ainda anunciou que vai fabricar "em um futuro muito próximo" um sistema antimísseis mais potente que o S-300 russo, cuja entrega a Teerã foi suspensa por Moscou. "Produzimos nós mesmos todos os nossos equipamentos de defesa antiaérea. Em apenas um caso havíamos decidido importá-los, e os russos não nos entregaram o sistema por motivos injustificáveis", disse o general Heshmatola Kassiri, alto funcionário da Defesa iraniana. "Direito violado" Para Clifford May, presidente da Fundação para a Defesa das Democracias, em Washington, as recentes movimentações de Teerã mostram que o governo tem "toda a intenção de continuar a violar o direito internacional". "Eles querem armas nucleares, e, a menos que sejam freados, vão adquirir. O presidente Ahmadinejad e o aiatolá Khamenei não estão interessados em negociar de verdade", opina May. O especialista da George Mason University Mark Katz afirma não saber se as demonstrações dos últimos dias refletem "autoconfiança, impaciência ou até mesmo desespero" do regime islâmico. "Como o Irã tem feito progressos reais em seu programa nuclear em segredo, o anúncio de Ahmadinejad de que Teerã vai fazer essas coisas me sugere que elas são mais parte de sua estratégia de negociação do que o seu plano real", avalia. "Eles querem mostrar ao público interno que Ahmadinejad é uma figura forte, patriótica, que não vai deixar o Irã ser chutado pelo Ocidente."

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