KIEV - "Nunca reconhecerei a legitimidade da vitória de Yanukovich com uma eleição assim", declarou a primeira-ministra da Ucrânia, Yulia Tymoshenko, ao comentar a derrota no segundo turno da eleição presidencial de domingo, segundo site o jornal Ukrainska Pravda.
De acordo com o jornal, Tymoshenko fez a declaração em uma reunião com os deputados de seu partido, que anunciaram a intenção de apresentar vários recursos judiciais contra a eleição de Viktor Yanukovich.
Tymoshenko vai tentar anular o resultado de várias seções eleitorais e se obtiver sucesso, pretende questionar o resultado global da votação, informou a deputada Olena Chustik.
No segundo turno, o candidato de oposição Viktor Yanukovich, pró-Moscou, recebeu 48,95% dos votos, contra 45,48% para Tymoshenko, segundo os resultados quase completos divulgados pela Comissão Eleitoral. Os observadores da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) afirmaram na segunda-feira que a eleição foi "transparente e honesta".
Já o governo dos Estados Unidos elogiou nesta terça-feira o desenvolvimento da eleição presidencial na Ucrânia em um comunicado no qual não menciona o candidato vencedor. "Os Estados Unidos saúdam o povo ucraniano pelo desenvolvimento do segundo turno da eleição presidencial", destaca o comunicado.
"O desenvolvimento do primeiro e do segundo turno mostrou que foi dado um novo passo na consolidação da democracia ucraniana", completa o texto.
Ao contrário da União Europeia (UE), que na segunda-feira manifestou "impaciência para trabalhar com o novo presidente ucraniano", o comunicado americano não menciona Yanukovich nem faz nenhum comentário sobre as relaçõe entre Ucrânia e Estados Unidos. "É agora evidente que Yanukovich é o vencedor da eleição", estimou Mikhail Okhendovski, membro da Comissão Eleitoral Central.
Com a divulgação dos primeiros resultados, Tymoshenko se recusou a reconhecer a derrota antes que o último voto fosse contabilizado. No entanto, ao qualificar a eleição de "transparente e honesta", a missão de observadores da OSCE tirou deçe um argumento de peso, se decidir levar a batalha aos tribunais alegando fraudes.
"A eleição deu uma impressionante demonstração de democracia", elogiou o presidente da Assembleia Parlamentar da OSCE, João Soares. "Chegou a hora de os dirigentes políticos do país ouvirem o veredicto do povo e de favorecer uma transferência de poderes pacífica e construtiva", acrescentou.
Viktor Yanukovich, 59 anos, proclamou vitória já no domingo, prometendo ser o presidente de todos os ucranianos e empreender reformas rapidamente. "Tymoshenko tem que se lembrar que é democrata e não estragar a boa imagem deixada domingo pela Ucrânia", declarou a deputada Ganna Guerman.
Em novembro de 2004, centenas de milhares de ucranianos foram às ruas para contestar a vitória de Yanukovich na presidencial, então perturbada por fraudes, e forçaram a realização de um terceiro turno, vencido pelo pró-ocidental Viktor Yushchenko.
Nesta segunda-feira, com exceção de um pequeno grupo de seguidores de Yanukovich diante da Comissão Eleitoral Central, não havia nenhum sinal de tensão, apesar de os dois lados terem ameaçado defender sua vitória nas ruas.
Para a imprensa ucraniana, a derrota do poder era indiscutível, depois das repetidas crises políticas e da situação econômica que marcaram a presidência de Yushchenko, que perdeu esta eleição já no primeiro turno.
"A vitória de Yanukovich era previsível. Não houve milagre", publicou nesta segunda-feira o jornal Gazeta po-Kievski. "A Revolução Laranja não apenas terminou, como desmoronou", festejou o deputado russo Kostantin Kossachev.