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Tensão cerca aniversário de 31 anos da Revolução Islâmica no Irã

postado em 11/02/2010 08:52
O tempo frio e chuvoso do inverno em Teerã não deve impedir os iranianos de saírem às ruas hoje. Em um momento em que a comunidade internacional ataca o Irã depois do anúncio de que o país começou a enriquecer urânio em 20%, o presidente Mahmud Ahmadinejad sonha com uma demonstração de unidade da população em torno da comemoração do 31° aniversário da Revolução Islâmica. O desejo, porém, deve ser frustrado por nova onda de manifestações de opositores do atual governo. [SAIBAMAIS]"As demonstrações (de hoje) serão pró-república islâmica e acontecerão em várias cidades, com a participação de milhões de pessoas. Mas não significa que todo mundo que participa apoia um indivíduo, Ahmadinejad, mas sim que apoia a Revolução Islâmica como um todo", avalia o professor da Universidade de Teerã Mohammad Marandi ao Correio, por telefone. Pela primeira vez, desde 11 de fevereiro de 1979, data da revolução, os jornalistas estrangeiros não poderão acompanhar os sete desfiles comemorativos que passarão pelas avenidas da capital a partir da Praça de Azadi (Liberdade, em persa). As autoridades autorizaram apenas a cobertura do discurso de Ahmadinejad, de manhã, na grande praça, que fica na região sudoeste de Teerã. "Pode haver protestos contra a República Islâmica, mas duvido que sejam em grande número. A mídia ocidental exagera, porque alguns países sempre tiveram problemas com o fato de o Irã ser independente", alega Marandi. Nas últimas semanas, líderes da oposição convocaram manifestações para hoje, em uma grande corrente pela internet, o que fez o governo advertir contra qualquer tentativa de "quebrar a unidade" do regime durante as comemorações. Para o ex-primeiro-ministro Mir Hossein Musavi, derrotado por Ahmadinejad na eleição presidencial de junho de 2009, a oposição deve estar "presente em tais movimentos (de protesto)". "Com as prisões, as surras e outras táticas de enfrentamento aplicadas em nome do Islã, o regime islâmico traz danos à religião", ataca Mousavi. Mortos e feridos Os últimos protestos ocorreram em 27 de dezembro, data de comemoração da luta religiosa de Ashura, e foram reprimidas duramente por policiais, com um saldo de oito mortos, centenas de feridos e mais de mil presos. O embaixador iraniano em Brasília, Mohsen Shaterzadeh, avalia que mesmo "as manifestações estão dentro da revolução". "O Irã é uma sociedade profundamente religiosa. A ligação entre a população e o líder religioso é muito profunda. Jovens, mulheres e homens amam seus líderes religiosos. A população ama a Revolução Islâmica", alega o diplomata. Para o professor Marandi, o Irã de hoje possui instituições que contam com o apoio dos iranianos. "Não é um sistema dos aiatolás. O líder (religioso) é eleito por um grupo de especialistas escolhido pelo povo. O Irã não é uma democracia liberal, mas uma democracia religiosa", defende. O professor argumenta que, se por um lado o Irã tem eleições para a Presidência, para o Parlamento e para líderes religiosos, por outro, a Constituição impõe certas limitações, assim como nas democracias liberais. "Em um país ocidental, se coloca um pôster de uma mulher quase nua para uma propaganda de perfume e isso é considerado liberdade, o direito de um indivíduo de utilizar uma propaganda para vender um produto. No Irã, é uma violação contra os direitos humanos. Não só contra os direitos das mulheres, mas daquelas pessoas que não querem suas crianças expostas a algo que pode ser considerado pornográfico ou semipornográfico", desabafa. "Então, a definição do que é ético, moral ou do que é liberdade é definido de forma diferente de outros países. Também não estou dizendo que o Irã é uma utopia, mas também não é uma distopia, ou o país %u2018mau%u2019 que os países ocidentais pintam", completa. Revolução foi reação contra xá A revolução de 1979 no Irã começou como um movimento popular pela democratização do país e terminou com a criação do primeiro Estado islâmico do mundo. Antes da revolução, o Irã era governado pelo xá Reza Pahlevi, apoiado pelos Estados Unidos. No entanto, o estilo autoritário do xá, a corrupção e o aumento da desigualdade social estimularam a oposição ao regime. Os principais críticos se concentraram na figura do aiatolá Ruhollah Khomeini, um clérigo xiíta exilado em Paris. Ele receitou a retomada dos valores do Islã. Em janeiro de 1979, o xá saiu do país e deixou o primeiro-ministro Shahpur Bakhtiar como chefe de um conselho que deveria governar durante sua ausência. Em 11 de fevereiro, tanques tomaram Teerã, mas não era o Exército que tomaria o poder. Bakhtiar renunciou e, dois meses depois, Khomeini declarou a criação de uma República Islâmica e foi escolhido como líder supremo religioso do Irã.

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