postado em 14/02/2010 11:05
A palavra Moshtarak significa ;juntos; em dari, uma variante do idioma persa falado no Afeganistão. Também é o nome da maior operação militar no Afeganistão desde 2001. Juntos, soldados afegãos, tropas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), marines norte-americanos e forças britânicas avançam na cidade de Marjah (sul), em uma tentativa de pôr fim ao domínio da milícia fundamentalista islâmica Talibã e controlar um dos mais importantes centros de tráficos de drogas do país, situado na província de Helmand. ;Até agora, matamos 20 combatentes da insurgência armada. Outros 11 foram presos;, afirmou à agência de notícias France-Presse o general Sher Mohammad Zazai, comandante das tropas afegãs. Ele admitiu que dois soldados da Otan, incluindo um britânico, também morreram na incursão. A mesma agência divulgou que mais três militares norte-americanos não resistiram à explosão de uma bomba artesanal na manhã de ontem. Não ficou claro se essas baixas ocorreram durante a operação.
Por telefone, de Marjah, o afegão Jamshid Hoseyni, 28 anos, contou ao Correio o que viu. ;Alguns helicópteros vieram e, muito lentamente, tomaram o controle de parte da cidade;, relatou. ;Pude vê-los dispararem contra alguns locais que abrigariam talibãs e contra áreas minadas.; Dono de uma empresa de consultoria no leste do Afeganistão, Jamshid garante que os milicianos não têm poder suficiente para combater os homens da Otan. ;Os talibãs somam apenas cerca de 100 guerrilheiros e usam a tática de lutar e se esconder;, disse.
Por volta das 13h de ontem (21h em Marjah), a situação na cidade era relativamente tranquila. ;Acredito que amanhã cedo a guerra começará novamente. Nos próximos dias, os insurgentes provavelmente desaparecerão rumo ao Paquistão para retornar tempos depois;, aposta. Por sua vez, Yusuf Ahmadi, porta-voz do Talibã, explicou a tática da facção. ;Estamos envolvendo-os em ataques de guerrilha;, disse. O objetivo é infligir danos ao alvo e evadir-se da área antes que a retaliação ocorra. ;Matamos seis soldados estrangeiros nos primeiros confrontos;, assegurou Ahmadi.
O primeiro dia da Operação Moshtarak, foi repleto de desafios. Em entrevista coletiva, Mohammad Gulab Mangal, governador de Helmand, revelou que o Talibã espalhou vários explosivos pela região de Marjah. Os milicianos plantaram bombas ao longo de uma rede de canais construída décadas atrás, depois da expulsão do Exército soviético do país, e tentaram inundar um pequeno curso d;água para irrigação. Os marines foram obrigados a improvisar pontes de metal para atravessar os canais em segurança. De acordo com a rede de TV CNN, os insurgentes usavam metralhadoras e granadas propelidas a foguetes para conter cerca de 200 fuzileiros navais, em uma área da cidade. Batalhas intensas eram registradas em outros setores.
Apelo
O presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, aproveitou a ocasião para se dirigir mais uma vez ao Talibã. Ele pediu à milícia que ;renuncie a violência e se reintegre à vida civil, junto com outros afegãos, pelo bem do país;. Também por telefone, o analista político Haroun Mir ; diretor do Centro para Pesquisas e Estudos Políticos do Afeganistão (em Cabul) ; descartou a hipótese de deserção dos extremistas e reconheceu a importância da incursão em Helmand. ;Em primeiro lugar, Marjah é uma fortaleza do Talibã. Os soldados norte-americanos não têm sido capazes de controlar este local;, afirmou, lembrando que, no ano passado, uma operação semelhante terminou em fracasso, na mesma província. ;Em segundo lugar, Marjah é uma grande produtora de papoula, que cresce muito rapidamente na província;, acrescentou, ao referir-se à planta base do ópio. Segundo Mir, as tropas britânicas têm autorização expressa de Cabul para destruir os campos de cultivo, o que estaria sendo feito nessa incursão. O comércio de ópio é um importante financiador de atentados suicidas e da compra de armas por parte do Talibã.
No entanto, o domínio sobre Marjah tem um motivo estratégico. Mir explica que a província tem permanecido fora do controle do governos nos últmos anos, além de ser parte da porosa fronteira com o Paquistão ; especialistas acusam Islamabad de compactuar com elementos radiciais. Com ou sem resistência feroz do Talibã, o analista de Cabul acredita no lento e cuidadoso avanço das tropas estrangeiras pela província de Helmand. ;O país enfrenta uma polêmica em torno de baixas civis, e os insurgentes plantaram várias bombas ao longo das estradas, além de minas terrestres;, comenta. A aposta de Haroun Mir é que o conflito dure pelo menos duas semanas. De acordo com ele, os EUA querem ter a certeza de um trabalho 100% realizado. ;Nas outras vezes, os americanos conseguiram limpar a região, mas não a mantiveram sob controle;, lembra.
Quando todos os talibãs de Marjah estiverem mortos ou capturados, o governo de Cabul terá pela frente uma tarefa bem mais complicada: prover serviços básicos para a população da cidade. ;Marjah é uma espécie de teste para Karzai. O presidente não conseguiu captar a confiança do povo afegão. Será fácil conquistar a cidade, mas não oferecer segurança e justiça.;