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Foguetes matam 12 civis

Otan admite que projéteis caíram sobre casa, a 300m do alvo, durante megaofensiva no sul do país

postado em 15/02/2010 09:47
Um suposto erro custou a vida de 12 civis e ameaça instigar o ódio da população do sul do Afeganistão. ;Dois foguetes do Sistema de Foguetes de Artilharia de Alta Mobilidade (Himars, pela sigla em inglês) lançados contra os insurgentes impactaram a aproximadamente 300m do alvo pretendido, matando 12 civis;, admitiu um comunicado da Força de Assistência de Segurança Internacional (Isaf), pertencente à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). ;Nós lamentamos profundamente essa trágica perda de vida;, acrescenta o texto assinado pelo general norte-americano Stanley McChristal, comandante da Isaf. ;A operação no centro de Helmand (província) destina-se a restabelecer a segurança e a estabilidade nessa área vital do país. É lamentável que, no curso de nossos esforços conjuntos, vidas inocentes tenham se perdido;, conclui.

O incidente ocorreu no distrito de Nad Ali, onde estão concentrados muitos dos 15 mil soldados do Afeganistão, Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Dinamarca e Estônia. Apesar de a própria aliança militar ter assegurado o êxito dos dois primeiros dias da Operação Moshtarak (;juntos;, no idioma dari), a morte de afegãos não envolvidos nos combates foi ontem o centro das atenções.

;Nós todos sabemos que o Talibã não é o alvo da Otan;, revolta-se o intérprete afegão Sayed Abdul Wakil, 23 anos, morador de Cabul. ;Essa ofensiva é contra os civis e tem o objetivo de matá-los e aterrorizá-los, apenas porque são amigos ou familiares de milicianos do Talibã;, acrescenta, referindo-se à milícia fundamentalista islâmica que ainda controla a região da cidade de Marjah, importante polo produtor de papoula, planta da qual é extraído o ópio. Wakil aposta no fracasso da Otan. Tem motivos históricos para tanto. ;Lembre que as forças britânicas estão em Helmand desde 2001. O que elas fazem lá até agora?;, questiona, ao lembrar que outras incursões na província não surtiram efeito.

O presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, reagiu com indignação às mortes e divulgou uma nota, por meio de sua assessoria. ;O presidente está profundamente entristecido pela morte dos 12 civis e ordenou uma investigação sobre esse incidente;, afirma o texto, de acordo com a agência de notícias France-Presse. No último dia 7, o mandatário havia exigido a suspensão de bombardeios a vilarejos e o completo fim às baixas civis. ;Acreditamos que a guerra ao terror não está nas vilas e casas afegãs. Nós acreditamos que essa guerra ao terror está nos santuários, nos campos de treinamento, nos fatores motivacionais e nos recursos financeiros além das fronteiras de nosso país;, disse, na ocasião, durante a Conferência de Segurança, em Munique (Alemanha). A Otan decidiu ontem suspender o uso do sistema de foguetes até uma revisão.

Conveniência
Por telefone, o afegão Haroun Mir ; fundador do Centro para Pesquisas e Estudos Políticos do Afeganistão ; disse ao Correio que a Otan está fazendo o jogo dos extremistas. ;Isso é o que o Talibã deseja: colocar os civis na linha de tiro;, opina o analista, que foi um dos homens de confiança de Ahmad Shah Massoud, o mujahedin que comandou a resistência contra os invasores soviéticos, entre 1979 e 1989. ;Os milicianos ordenaram aos civis que não abandonem suas casas;, explica. De acordo com ele, a estratégia dos talibãs é usar o poder de fogo da Otan contra a própria coalizão. O especialista acredita que as tropas invasoras terão a incumbência de suprir serviços básicos essenciais à população, após o fim dos combates. Essa será a moeda de troca para conquistarem a lealdade dos afegãos. ;A Operação Moshtarak é uma batalha sobre pessoas, corações e mentes;, observa.

Mir espera muito mais baixas entre os moradores de Marjah. ;Essa não é uma guerra limpa;, avisa. Ele não tem dúvidas, porém, de uma derrota iminente dos talibãs. ;Os extremistas estão fugindo da região, rumo ao Paquistão, e não pretendem lutar até o fim. Mas o Talibã já perdeu esse confronto: são cerca de 100 homens contra 15 mil soldados;, justifica. Mesmo em número reduzido, o inimigo tem conseguido impor dificuldades ao avanço das tropas. Os militares enfrentam atiradores e armadilhas com explosivos. Até o fechamento desta edição, a Otan confirmava a morte dos 12 civis, de três soldados estrangeiros e de 27 talibãs.

Análise da notícia
Os riscos da guerra

Cada erro cometido pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no Afeganistão provavelmente terá um custo muito caro. O Talibã pode até não dispor de uma capacidade de fogo eficiente o bastante para combater tropas dotadas de armamentos de alta tecnologia. No entanto, os milicianos sabem esperar o momento para retaliar e contam com três fatores cruciais: o elemento surpresa, a vulnerabilidade da segurança em Cabul e a disposição para morrer em nome do islã. É de se esperar que, nos próximos dias, a capital afegã esteja cada vez mais na mira dos extremistas suicidas.

A Operação Moshtarak também precisará ser rápida e ter o menor número de baixas entre civis. Caso contrário, os soldados estrangeiros dificilmente conseguirão a simpatia dos moradores de Marjah. O apoio da população facilitaria a delação de militantes do Talibã ; eles se confundem facilmente com cidadãos comuns ; e prepararia o terreno para um controle sem percalços do governo afegão que, durante anos, inexistiu na província de Helmand. Em um país cuja renda per capita chega a US$ 220 e a miséria é galopante, o foco nas plantações de papoula também deve ser um complicador. Muitos fazendeiros dependem do cultivo da base do ópio. (RC)

Avião-espião ataca no Paquistão
Os Estados Unidos realizaram ontem mais uma missão de assassinato seletivo no Paquistão. Um avião não tripulado despejou mísseis sobre uma casa na vila de Naurak, na província do Waziristão do Norte (nordeste do país), matando pelo menos cinco supostos membros da milícia fundamentalista islâmica Talibã. Fontes da inteligência norte-americana ainda não confirmaram a identidade das vítimas. O governo do presidente Barack Obama tem intensificado o uso dessas aeronaves, na esperança de atingir a cúpula da rede terrorista Al-Qaeda, incluindo o dissidente saudita Osama bin Laden.

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