postado em 16/02/2010 16:19
O Papa Bento XVI denunciou nesta terça-feira a inércia da hierarquia católica irlandesa, manchada por atos de pedofilia cometidos por sacerdotes acobertados por bispos, e pediu medidas concretas para "restaurar a credibilidade moral e espiritual da Igreja".
Os bispos reconheceram que "houve erros de julgamento e omissões", e se comprometeram a cooperar com a justiça, informou o Vaticano em um comunicado publicado após os três encontros do Papa com todos os bispos irlandeses na segunda e nesta terça-feira pela manhã. A convocação de toda a hierarquia episcopal de um país é um procedimento excepcional, assinalam especialistas em assuntos do Vaticano.
O Papa incentivou os bispos irlandeses que recebeu no Vaticano a "restaurar a credibilidade moral e espiritual da Igreja", afetada pelos escândalos de pedofilia. Os bispos da Irlanda se comprometeram a cooperar com a justiça de seu país. No comunicado publicado pelo Vaticano após a reunião, Bento XVI fez um apelo aos bispos para que adotem "medidas concretas para curar as feridas dos que sofreram abusos".
O pontífice qualificou os abusos de "crimes abomináveis", um "grave pecado que ofende Deus e fere a dignidade das pessoas, criadas à sua imagem e semelhança". Segundo um relatório divulgado no fim de novembro, os responsáveis pela arquidiocese de Dublin, a mais importante da Irlanda, acobertaram os abusos sexuais cometidos por sacerdotes da região contra centenas de crianças durante décadas.
Depois das revelações, quatro bispos apresentaram sua demissão, mas apenas uma delas foi efetivada até o momento, a de Donald Murray, ex-bispo de Limerick e bispo auxiliar de Dublin de 1982 a 1996. Outro que se demitiu, James Moriarthy, bispo de Kildare e Leighlin, faz parte do grupo que se reuniu com o Papa.
Bento XVI denunciou "o fracasso das autoridades da Igreja irlandesa para atuar com eficácia contra esses casos de abusos sexuais contra jovens por parte de membros do clero irlandês e religiosos". "É um passo à frente no caminho e haverá ainda mais passos", declarou o padre Federico Lombardi, porta-voz do pontífice, ao apresentar o documento à imprensa.
Segundo ele, a tomada de "decisões concretas" não figurava "na agenda do encontro", destinado ao diálogo. Bento XVI "interveio várias vezes durante os encontros de maneira amistosa", acrescentou o padre Lombardi, lembrando que o Papa se mostrou "profundamente afetado" pelo caso.
Ao destacar que "a penosa situação atual não será resolvida rapidamente", o Papa convidou a hierarquia católica a "abordar os problemas do passado com determinação e enfrentar a crise atual com honestidade e valor". Bento XVI disse que publicará, no próximo período da Quaresma, uma carta aos católicos da Irlanda, cujo projeto foi debatido durante os encontros.