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Entrevista com Thomas H. Johnson, conselheiro das forças de coalizão no Afeganistão

postado em 17/02/2010 10:40
Ele está engajado na publicação do livro Narrativas do Talibã, propaganda e insurgência. Já viajou várias vezes para o Afeganistão e o Paquistão, onde realizou pesquisas de campo. Professor da Escola de Pós-Graduação Naval em Monterey (Califórnia) e atual conselheiro das forças de coalizão, o norte-americano Thomas H. Johnson falou ao Correio, por telefone. [SAIBAMAIS]O especialista admitiu que a prisão do mulá Abdul Ghani Baradar pode ter forte impacto sobre a milícia fundamentalista islâmica do Talibã, mas lembrou que a facção tem alta capacidade de recompor sua liderança. Como o senhor vê a prisão do mulá Abdul Ghani Baradar? Isso representa uma grande golpe no Talibã? A prisão do mulá Baradar pode ser potencialmente muito importante. Ele tem sido o principal líder em operação do Talibã por alguns anos. De acordo com relatos, ele é um homem muito próximo ao mulá Omar (fundador e chefe da milícia). Sua captura poderia ser vista como um grande evento. Mas temos constatado que líderes do Talibã presos ou mortos no passado foram rapidamente substituídos. Pelo fato de o mulá Baradar ter participado de operações diárias da milícia, sua prisão é bastante significativa. Que função ele desempenhava dentro da milícia? Ele era o número dois dentro do Talibã. Durante muito tempo, o mulá Baradar tem sido membro da Shura, o conselho de reuniões do Talibã, baseado em Quetta, uma grande cidade situada na província de Baluchistão. Ele também tem atuado como ministro da Defesa do Talibã. Basicamente, ele dirigia as operações diárias do Talibã há pelos menos dois anos. Yussuf Ahmadi, porta-voz do Talibã, desmentiu a notícia da captura%u2026 Os talibãs já negaram esse tipo de incidente. Não me causa espanto essa conduta de desmentir a prisão. Acredito que os talibãs provavelmente foram pegos de surpresa. É muito interessante saber porque ele foi capturado em Karachi. A Shura estava operando fora de Quetta, o que pode sugerir que o mulá Baradar estivesse em fuga. O senhor tem informações adicionais sobre as condições da prisão? Não, tudo o que sei é que foi uma operação conjunta entre nossa comunidade de inteligência, a CIA, e o serviço secreto ISI, do Paquistão. E que ele foi preso em Karachi. Com o mulá Baradar nas mãos, será mais fácil chegar até o mulá Omar ou Osama bin Laden? Creio que será relativamente mais fácil localizar o mulá Omar. Eu suspeito que ele esteja correndo em busca de refúgio agora. Segundo o jornal The New York Times, o mulá Abdul Ghani Baradar foi capturado uma semana atrás. Provavelmente outros agentes da CIA e do ISI estejam em operação agora para encontrar os líderes do Talibã e do Paquistão. Os Estados Unidos têm usado aviões espiões para bombardear áreas no Paquistão. Essa é a melhor estratégia para atingir as cúpulas da Al-Qaeda e do Talibã? Creio que o uso de aviões espiões tenha aspectos positivos e negativos. O que estamos enfrentando em partes das Áreas Tribais Federalmente Administradas, no Paquistão, é uma insurgência. Você não vai deter uma insurgência disparando mísseis do alto. É preciso colocar soldados em solo. Mas trata-se de algo virtualmente impossível para os EUA. O problema seria o efeito colateral: muitos civis morreriam. Precisamos ser muito cuidadosos para evitar isso. Além disso, em dezembro passado, agentes da CIA foram mortos em um atentado suicida no Paquistão. A Al-Qaeda está muito mais enfraquecida que dois ou três anos atrás? Não há dúvidas de que a Al-Qaeda está mais fraca. Os ataques com aviões não tripulados surtiram impacto significativo na liderança da rede. Mas acho que o Talibã tem ficado mais forte recentemente. Ouça entrevista com Thomas H. Johnson (em inglês)

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