Agência France-Presse
postado em 17/02/2010 16:59
Suspeito de ter assassinado em janeiro, em Dubai, um líder do movimento islamita palestino Hamas e, pior, de ter deixado pistas, o Mossad - o serviço secreto israelense, está na berlinda. A imprensa israelense, assim como altos dirigentes do Mossad, se preocupa com o embaraço que a morte de Mahmud al-Mabhuh, no dia 20 de janeiro, está causando, depois de estabelecido que sete supostos membros do comando de assassinos se serviram de nomes emprestados de israelenses, possuidores de dupla nacionalidade.O jornal Haaretz pede a demissão do chefe do Mossad, Meir Dagan, partidário de ação direta e de "operações de liquidação". O analista militar do jornal critica o premier Benjamin Netanyahu por "não ter ouvido os que o advertiram contra a prorrogação do mandato de Dagan", no cargo desde outubro de 2002. "Uma operação de sucesso? Não certamente", diz a manchete do jornal de grande tiragem Yediot Aharonot, segundo o qual "mais e mais falhas são reveladas nesta operação que parecia, no início, coroada de grandes resultados".
Evitando incriminar diretamente o Mossad, o jornal diz, no entanto, que "os que montaram esta operação não levaram em consideração o profissionalismo da polícia de Dubai", que conseguiu identificar os suspeitos nas imagens das câmeras de segurança. O ministro israelense das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman, rejeitou taxativamente a hipótese do seu envolvimento e disse que "não há razão alguma para pensar que se trata do Mossad israelense e não dos serviços secretos de outros países fazendo coisas estúpidas", afirmou nesta quarta-feira.
"Creio que a Grã-Bretanha reconhece que Israel é um país responsável e que nossas atividades em matéria de segurança são realizadas em virtude de regras muito claras, prudentes e responsáveis. Não há rezão alguma para ficarem preocupados", acrescentou.
O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, prometeu nesta quarta-feira uma "investigação exaustiva" sobre o uso de passaportes britânicos falsos no assassinato do dirigente do Hamas, enquanto vários deputados pediam a Israel que explique seu papel nesse tema. "Estamos examinando o assunto neste momento", declarou Brown à rádio londrina LBC. "Temos que realizar uma investigação exaustiva sobre o assunto".
O porta-voz de Relações Exteriores do Partido Conservador e provável futuro ministro, William Hague, escreveu para o atual titular do Foreign Office, David Miliband, para pedir um rápido esclarecimento do caso. "As informações segundo as quais as identidades de verdadeiros cidadãos britânicos foram ;clonadas; para produzir passaportes falsos é um assunto que causa grande preocupação", ressaltou Hague.
O deputado Menzies Campbell, ex-chefe do terceiro partido político do Reino Unido, os liberais-democratas, foi mais explícito, pedindo que o Foreign Office convoque o embaixador de Israel em Londres para dar a sua versão dos fatos. Menzies Campbell, membro do Comitê de Relações Exteriores da Câmara dos Comuns, exigiu respostas às "conjecturas" sobre um envolvimento do Mossad, o serviço secreto israelense, no assassinato do líder do movimento islâmico palestino Hamas.
A Polícia de Dubai havia anunciado na segunda-feira que onze pessoas munidas de passaportes europeus -três irlandeses, seis britânicos, um francês e um alemão- eram procuradas, mas os governos de Londres e de Dublin rapidamente indicaram que eram documentos falsos.
Pelo menos sete israelenses com dupla nacionalidade se declararam vítimas de uma usurpação de identidade no caso do assassinato de Mahmud Abdel Rauf al-Mabhuh, um dos fundadores do braço armado do Hamas. Mabhuh, considerado por Israel um importante fornecedor de armas do Hamas, envolvido na morte de dois soldados israelenses, foi eliminado e o comando que o assassinou conseguiu fugir. A imprensa publicou nesta quarta-feira fotos de seis cidadãos com nacionalidades israelense e britânica e de um outro israelense-alemão que se queixaram da usurpação de suas identidades. Comandos israelenses utilizaram com frequência, no passado, falsos passaportes, principalmente em 1997, quando agentes do Mossad haviam tentado, em vão, assassinar Khaled Mechaal, um dirigente do Hamas na Jordânia, onde entraram com passaportes canadenses.