postado em 19/02/2010 09:20
O encontro do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, com o dalai-lama, líder espiritual dos tibetanos no exílio, foi cercado de "cuidados" para evitar um mal-estar ainda maior com a China. Desde a escolha do local para a recepção até as palavras atribuídas a Obama divulgadas após a reunião, todos os passos foram devidamente controlados pela Casa Branca. O maior exemplo veio após o visitante ter declarado que Obama lhe manifestou "apoio": a Presidência esclareceu que o mandatário manifestou "firme respaldo à preservação da excepcional identidade religiosa, cultural e lingüística e à proteção dos direitos humanos dos tibetanos na República Popular da China". Nada sobre a autonomia do Tibete.
[SAIBAMAIS]"O presidente elogiou o 'caminho' seguido pelo dalai-lama, seu compromisso com a não violência e sua busca de diálogo com o governo chinês", disse o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, após o encontro de 45 minutos. Segundo ele, Obama destacou que tem estimulado tibetanos e o governo chinês a "empreenderem um diálogo direto para resolver as diferenças". Gibbs ainda acrescentou que o anfitrião e o visitante - os dois laureados com o Nobel da Paz - "coincidiram na importância de uma relação positiva e cooperante entre Estados Unidos e China". O líder tibetano, por sua vez, falou à imprensa na saída da Casa Branca, e disse que discutiu com Obama questões relacionadas à promoção da paz e da harmonia religiosa.
Apesar do grande interesse da imprensa pela visita, o dalai-lama conseguiu passar pelos Estados Unidos de uma maneira discreta. Ele chegou ao Aeroporto Internacional Dulles, nos arredores de Washington, no início da manhã, e, sob um forte esquema de segurança, foi levado para o hotel, onde recebeu um grupo de tibetanos. Por volta das 11h30 (14h30 em Brasília), o líder de 74 anos foi recebido por Obama na Sala dos Mapas - outro cuidado tomado pela Presidência, já que um encontro oficial no Salão Oval, onde são recebidos todos os chefes de Estado, seria mais uma alfinetada em Pequim, que chegou a exortar Washington para que o encontro não ocorresse.
Prejuízos
No início do mês, o governo chinês anunciou que, a recepção do dalai-lama poderia "prejudicar muito as bases das relações políticas entre os Estados Unidos e a China". Na época, a Casa Branca respondeu, afirmando que a ligação entre os dois países é "madura o suficiente" para permitir discordâncias sobre alguns temas. Só que a relação entre Washington e Pequim já anda abalada por sucessivos desentendimentos, como a possível venda de US$ 6,4 bilhões em armamento americano para Taiwan, as críticas dos EUA ao protecionismo chinês no comércio e os comentários da secretária de Estado, Hillary Clinton, sobre a restrição, por Pequim, da liberdade na internet. Há ainda a pressão para que a China se una aos EUA na pressão contra o programa nuclear iraniano.
Para Fred Teng, membro do Comitê Nacional de Relações EUA-China, a escolha de Obama pode, de fato, fazer as relações entre os dois países retroceder novamente. "Por enquanto, é desaconselhável fazer festa com um líder exilado e ainda ofender o parceiro mais importante dos Estados Unidos", afirmou Teng em artigo publicado no The Huffington Post. "Durante esse período crítico, o presidente deveria focar mais em construir uma relação construtiva com a China, e não desviar sua atenção do objetivo final da construção de um entendimento mútuo e de confiança."