postado em 20/02/2010 10:44
Robert J. Oppenheimer lembrou-se de uma passagem do Bhagavad-Gita, o texto sagrado dos hindus, quando o intenso clarão de sua obra ofuscou seus olhos, em 16 de julho de 1945. ;Se o brilho de mil sóis aparecesse no céu, seria como o esplendor do todo-poderoso. Eu me torno a morte, o destruidor de mundos;, afirma a escritura. Considerado o pai da bomba atômica, o cientista do Projeto Manhattan morreu em 19 de fevereiro de 1967. Sem culpa.Uma de suas declarações mais polêmicas ecoa mais hoje do que nunca. ;Nosso trabalho mudou as condições nas quais os homens vivem, mas o uso feito dessas mudanças é um problema dos governos, não dos cientistas;, disse. Depois que a criação de Oppenheimer devastou as cidades de Hiroshima e Nagasaki, ceifando a vida de pelo menos 220 mil pessoas, as armas atômicas tornaram-se preocupação mundial. O fantasma de uma hecatombe nuclear paira sobre o regime teocrático do Irã ; onde política e religião se fundem na figura do aiatolá ; e sobre o regime comunista da Coreia do Norte, um país mergulhado na miséria.
;Seria um erro de julgamento, da parte da comunidade internacional, acreditar que Pyongyang abandonará as bombas atômicas em troca de uma ajuda econômica.; O comunicado oficial divulgado pela agência estatal norte-coreana KCNA destoa da tentativa de Teerã de acalmar o Ocidente. ;A Coreia do Norte tem desenvolvido armas atômicas para sua própria defesa e não para ameaçar ninguém ou para receber favores econômicos ou recompensas;, acrescenta o texto, certamente revisto pelo ditador Kim Jong-il. No último dia 8, o próprio líder havia dado sinais conflitantes, ao reiterar seu compromisso com a desnuclearização do país e da Península Coreana.
Por sua vez, o aiatolá Ali Khamenei inaugurou ontem o destróier Jamaran, uma moderna embarcação dotada de mísseis terra-ar, e descartou as ambições armamentistas de Teerã. ;As acusações do Ocidente são sem fundamento, porque nossas crenças religiosas nos proíbem de buscar isso (a bomba atômica);, declarou o máximo líder religioso iraniano. Foi uma reação a um relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), divulgado na véspera, segundo o qual o Irã não tem cooperado para permitir a confirmação dos fins pacíficos de seu programa nuclear, recusou-se a implementar as resoluções do Conselho de Segurança da ONU, manteve em operação a usina de Natanz e anunciou a construção de outras 10 usinas.
A ativista de direitos humanos e advogada iraniana Lily Mazahery representa os interesses de ex-funcionários de usinas nucleares e companhias que revendiam tecnologia ao programa nuclear do Irã. Em entrevista ao Correio, ela contou que seus clientes lhe confirmaram as aspirações bélicas do presidente Mahmud Ahmadinejad. ;O Irã pretende ser respeitado e temido pelo mundo;, assegura. ;Teerã não quer que Israel seja superior em qualquer nível.; A também analista política lembra que o regime patrocina o terrorismo ao redor do mundo, desde há tempos. ;Ao desenvolver as capacidades nucleares, o país pode ameaçar vendê-las para grupos terroristas;, alerta Mazahery.
[SAIBAMAIS]O sul-coreano Won Paik, cientista político da Central Michigan University (nos Estados Unidos), acredita que a Coreia do Norte já tenha várias bombas atômicas. Sua tese parte do raciocínio sobre a quantidade estimada de plutônio processado dos reatores de Yongbyon. ;Há duas razões de segurança para Pyongyang possuir esse arsenal: em primeiro lugar, querem usá-lo para atacar alguém; em segundo, como instrumento de dissuasão;, observa.
Paik aposta na segunda hipótese. Segundo ele, o uso de armas nucleares contra a Coreia do Sul, o Japão ou a China detonaria uma imediata retaliação dos aliados. ;Para fazer um míssil nuclear, você precisa colocar uma ogiva nuclear dentro dele, e não há confirmação de que os norte-coreanos tenham feito isso;, explica. O especialista sugere que os EUA temem a importação dessas armas para Estados-párias ou grupos terroristas.
Europa
O medo do uso inadequado da bomba atômica fez com que cinco países da Organização do Tratado do Atlântico Norte ; Alemanha, Bélgica, Luxemburgo, Noruega e Holanda ; decidissem pedir a retirada do arsenal atômico norte-americano armazenado na Europa. De acordo com uma fonte próxima ao governo belga, citada pela agência France-Presse, a iniciativa refere-se às cerca de 240 bombas da época da Guerra Fria guardadas na Alemanha, Bélgica, Itália e Turquia. ;O governo belga que aproveitar a oportunidade aberta pelo presidente (Barack Obama) a favor de um mundo sem armas nucleares;, disse o premiê belga, Yves Leterme.