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Argentinos encontram mais um órfão de desaparecidos políticos

postado em 23/02/2010 17:17
Buenos Aires ; As avós da Praça de Maio anunciaram nesta terça-feira (23/2) o resultado de três décadas de investigação: encontraram Francisco Madariaga Quintela, o neto desaparecido de número 101. A organização de direitos humanos foi criada em 1977 para buscar 500 criancas que nasceram em prisões e campos de concentração durante a última ditadura militar argentina (1976-1983).

;Estou realmente muito feliz. Recuperei minha identidade e minha liberdade;, disse Francisco Madariaga Quintela, de 32 anos, ao abraçar o pai, diante das cameras de televisão.

Francisco nasceu em julho de 1977 no Campito, um centro de detenção clandestino, na base militar Campo de Maio, a 30 quilômetros de Buenos Aires.

Sua mãe, Silvia Quintela, uma médica e militante do grupo guerrilheiro Montoneros, foi sequestrada pelos militares quando estava grávida de quatro meses e nunca mais apareceu. Seu pai, Abel Madariaga, escapou e exiliou-se na Suécia e no México. Voltou à Argentina no final da ditadura, em 1983. Desde então, trabalhava com as avós da Praça de Maio na busca do seu filho e de outros filhos de desaparecidos.

Abel estava visivilmente emocionado ao reencontrar o filho e prometeu continuar buscando outros filhos de desaparecidos. Segundo as Avós da Praça de Maio, faltam ainda encontrar 400 criancas que desapareceram entre 1980 e 1983.

Foi Francisco que, aos 32 anos, acabou encontrando o pai. Ele cresceu achando que seu nome era Alejandro Gallo, filho de Susana e Victor Gallo ; um oficial do Exército, durante a ditadura, que também participou de uma rebelião militar contra o governo democrático de Raul Alfonsín, na década de 1980.

;Sempre achei que alguma coisa nao estava batendo. Eu não era fisicamente parecido com meus pais, nem meus irmãos. Minha forma de pensar era totalmente diferente. Desconfiava que tinha sido adotado, mas precisava de coragem para dar um passo além;, contou Francisco à Agência Brasil. ;Foi gracas aos meus amigos que decidi buscar as Avos da Praca de Maio e me submeter a um teste para saber se era filho de desaparecidos.;

As avós da Praça de Maio montaram um banco de sangue, com amostras de sangue de parentes de muitos dos 30 mil argentinos que desapareceram durante a ditadura militar.

Antes de submeter-se ao teste de DNA, Francisco conversou com Susana ; a mulher que considerava ser sua mae e pela primeira vez ela confirmou suas suspeitas. Ela contou que o marido apareceu com Francisco, em casa, no dia 10 de julho de 1977, dizendo que tinha encontrado um bebê abandonado na base militar de Campo de Maio.

Susana acompanhou Francisco até a sede das Avós de Praça de Maio e depôs contra o ex marido, que acusa de ter sido violento com ela e os filhos. O casal tem dois filhos próprios: Martin, de 30 anos, e Guadalupe, de 33. Os irmãos tampouco sabiam que Francisco era filho de desaparecidos políticos. ;Eles, como eu, também foram vitimas de Victor Gallo;, disse Francisco.

Uma vez comprovada a identidade de Francisco, a Justiça argentina mandou prender Susana e Victor Gallo, pelo sequestro de um menor de idade e roubo de sua identidade. Na Argentina, esse crime não prescreve.

;Tenho sentimentos muito misturados neste momento, mas estou feliz porque sempre procurei a minha verdade e acabo de encontrá-la;, disse Francisco, que ja foi malabarista, trabalhou com segurança de caminhões e agora está desempregado.

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