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Estrangeiros na mira

Extremistas suicidas e atiradores matam 17 pessoas no centro de Cabul, incluindo nove indianos, um francês e um italiano

postado em 27/02/2010 10:41
Entre o momento em que os muezins subiram nos minaretes para chamar o povo à Sharooq ; a segunda oração diária ; e o caos, passaram-se apenas 19 minutos de silêncio. Cabul despertava para mais uma sexta-feira, dia considerado sagrado para os muçulmanos e equivalente ao domingo no Ocidente. A maior parte das lojas manteve suas portas fechadas e as ruas da capital afegã de 3 milhões de habitantes ainda estavam relativamente vazias quando se escutou as explosões, seguidas de um intenso tiroteio. ;Foram dois grandes estrondos, por volta das 6h45 (1h15 em Brasília), um deles na entrada do maior shopping da cidade. Muitas ruas ainda estão fechadas pelas forças de segurança;, contou ao Correio, pela internet, o afegão pashtun Naseer Hussaini. ;Pouco depois, cerca de cinco a oito militantes do Talibã lutaram por três horas. Ao menos duas explosões foram causadas por homens-bomba.; De acordo com ele, logo após o ataque houve uma correria no bairro comercial de Shar-I-Naw, na região central de Cabul. ;Mulheres e crianças gritavam;, lembra.

Os alvos dos extremistas suicidas foram o shopping Kabul City Center ; um prédio de nove andares ; e os hotéis Park Residence e Safi Landmark, bastante frequentados por estrangeiros. Outro homem-bomba também detonou a carga de explosivos atada ao corpo diante de uma hospedaria da Embaixada da Índia. O impacto da bomba devastou o prédio e matou nove indianos. Na série de ataques, morreram pelo menos 17 pessoas, incluindo ainda o diplomata italiano Pietro Antonio Colazzo e o cineasta francês Séverin Blanchet. Pelo menos 30 ficaram feridos. O documentarista atuou no filme Jardins de outono, do diretor georgiano Otar Iosselani, e estava em Cabul havia quatro anos para dar cursos a jovens afegãos.

Homenagens

O chanceler da França, Bernard Kouchner, saudou Blanchet como ;um parceiro privilegiado da ação cultural francesa no Afeganistão; e condenou ;com firmeza o atentado;. ;Os terroristas fizeram prova, novamente, de seu pouco caso com a vida humana, visando com selvageria os civis;, declarou, segundo a agência de notícias France-Presse. Por sua vez, o premiê da Itália, Silvio Berlusconi, afirmou receber ;com muita dor; a notícia da morte de Colazzo. ;Um fiel servidor do Estado, que morreu com seu dever num país martirizado por infames atos terroristas;, disse. Já o ministro das Relações Exteriores da Índia, S.M. Krishna confirmou a morte de funcionários diplomáticos e desabafou: ;Esses ataques bárbaros são motivo de grave preocupação e visam, claramente, o povo indiano e o povo afegão;. Ele lembrou que o atentado de ontem foi o terceiro contra funcionários e interesses do país no Afeganistão nos últimos 20 meses.

Por telefone, o analista político afegão Haroun Mir ; fundador e diretor do Centro para Pesquisas e Estudos Políticos do Afeganistão ; relatou ao Correio que escutou explosões seguidas de tiroteios. ;Vivo há apenas quatro quilômetros da região atacada;, afirmou. ;A batalha dentro de Cabul demorou horas até que a polícia chegasse;, acrescentou, antes de admitir que o dia de descanso na capital atrasou a reação do governo ao atentado. ;Teria sido uma catástrofe se (o ataque) tivesse ocorrido durante a semana;, admitiu.

Autoria

Zabiullah Mujahid, porta-voz do Talibã, confirmou à France-Presse a responsabilidade da milícia fundamentalista islâmica no atentado. ;Oito combatentes nossos realizaram o ataque; um detonou seu carro-bomba diante de um hote, outros dois também ativaram suas bombas. Os outros permanecem presentes no local;, assegurou. No entanto, Haroun Mir desconfia da reivindicação de autoria. Para ele, a ação terrorista leva a assinatura da rede Haqqani, uma organização de mujahedine liderada por Jalaluddin Haqqani, um conhecido líder pashtun que lutou contra a invasão soviética, na década de 1980. ;Essas ações nada têm a ver com ligação com a ofensiva (1)da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em Kandahar ou em Helmand;, garantiu. ;Semanas atrás, os Estados Unidos mataram no Paquistão Mohammed Haqqani, filho de Jalaluddin.; As explosões e tiroteios em Cabul teriam sido uma vingança.

Mir diz que a preparação dos atentados de ontem e sua forma de execução remontam ao clã dos Haqqani. ;Apesar de não terem ligações com a Al-Qaeda, a rede Haqqani também é inimiga do governo e do Exército Nacional afegão;, explicou. O analista afegão acrescentou que a organização recebe financiamento a partir de um intrincado sistema, que incluiria a própria Al-Qaeda e instituições de caridade nos Emirados Árabes Unidos., no Kuweit e na Arábia Saudita.


1 - Kandahar, o próximo alvo
O Exército dos Estados Unidos pretende lançar em breve uma grande ofensiva militar na cidade de Kandahar (sudeste do país). Os militares norte-americanos consideram a Operação Moshtarak, realizada em Marjah (sul), um ;modelo para o futuro;. O general Stanley McChrystal, comandante das forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no Afeganistão, declarou ao jornal britânico The Times que Kandahar ;é muito importante para todo o país;. Ao citar um oficial norte-americano, a TV Al-Jazira, do Catar, assegurou que ;trazer segurança para a cidade de Kandahar é a peça-chave deste ano;. Ainda segundo ele, Marjah tem sido vista apenas ;um prelúdio, um tipo de ação preparatória;.

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