Agência France-Presse
postado em 27/02/2010 21:56
Um terremoto de 8,8 graus de magnitude, um dos mais fortes das últimas décadas, matou 214 pessoas, deixou 15 desaparecidos e provocou sérios danos na região centro-sul do Chile na madrugada deste sábado.A presidente do Chile, Michelle Bachelet, informou em mensagem à Nação que o tremor deixou 214 mortos, 15 desaparecidos e dois milhões de danificados.
"Foi um terremoto de grande força", disse Bachelet, advertindo que "ainda não é possível avaliar tudo".
Bachelet, que sobrevoou durante a tarde a região da cidade de Concepción, uma das zonas mais afetadas, pediu calma à população e manifestou suas condolências às famílias das vítimas.
O ministro do Interior, Edmundo Pérez Yoma, já havia informado 214 mortos, mas advertindo que "este é um cataclismo de proporções imensas, e será muito difícil chegar a números exatos".
A diretora do Bureau Nacional de Emergências (Onemi), Carmen Fernández, informou que a zona da cidade de Concepción foi a mais atingida, e na região há cerca de 400 mil "afetados" pelo tremor, que pegou a população às 03H34 local (03H34 Brasília).
O tremor teve seu epicentro a 90 km de Concepción, cidade de meio milhão de habitantes 500 km a sul de Santiago. A ponte da cidade, construída sobre o rio Bio Bio, ficou destruída.
O terremoto provocou um tsunami que deixou cinco mortos e 11 desaparecidos na remota ilha de Robinson Crusoé, a 700 km da costa chilena.
Iván de la Masa, prefeito de Valparaíso, a cidade mais próxima da ilha, confirmou que uma série de ondas gigantes matou cinco pessoas e outras 11 estão desaparecidas em Robinson Crusoé.
A pequena ilha, com cerca de 600 habitantes, foi arrasada pelo tsunami. O local, que inspirou o narrador inglês Daniel Defoe a escrever ;Robinson Crusoé;, não sentiu o forte terremoto, mas foi varrido posteriormente por uma série de ondas, que atingiram especialmente a baía de Cumberland, revelou o piloto Fernando Avaria.
"Tudo em uma distância de três quilômetros (em Cumberland) desapareceu", disse Avaria à Televisão Nacional do Chile, após manter contato com a ilha.
Na baía de Cumberland havia três pousadas, a prefeitura e várias repartições públicas.
Bachelet, enviou duas embarcações, dois helicópteros e um avião" a Robinson Crusoe, no arquipélago de Juan Fernández.
No momento do terremoto, que durou cerca de um minuto, os chilenos saíram aterrorizados para as ruas. Devido aos vários tremores secundários que se seguiram, as pessoas preferiram permanecer na rua, temendo abalos mais graves às construções.
A confusão foi agravada pela escuridão, já que a energia caiu em toda a região logo após o tremor. As linhas telefônicas também foram cortadas.
Em Santiago, muros caíram e prédios foram danificados.
A Direção Geral de Aeronáutica Civil (DGAC) informou que o aeroporto internacional de Santiago, o maior do país, ficará fechado por pelo menos 24 horas devido ao colapso parcial da estrutura do terminal de passageiros.
Segundo a DGAC, a pista do terminal não sofreu danos, mas a estrutura que sustenta a plataforma de passageiros ficou destruída.
Os voos internacionais com destino a Santiago estão sendo desviados para aeroportos argentinos como o de Mendoza (1.100 km a oeste de Buenos Aires)
O tremor também provocou problemas nos transportes rodoviários. Desmoronamentos nos acessos de ambos os lados da cordilheira dos Andes obrigaram o fechamento da passagem Cristo Redentor, principal ligação entre Chile e Argentina, muito utilizada para o transporte de cargas.
A via foi reaberta às 09h00 (06H00 GMT), com recomendações de precaução.
Algumas regiões da Argentina também sentiram o terremoto, cujos tremores secundários chegaram a mais de 6 graus de intensidade. O mesmo ocorreu na cidade de São Paulo, segundo o Observatório Sismológico da Universidade de Brasília.
O presidente eleito do Chile, Sebastián Piñera, que assume o poder no dia 11 de março, estimou que o terremoto representa um "duro golpe" para a população do país, destacando que esta é a pior catástrofe enfrentada pelos chilenos nos últimos 30 anos.
"O Chile deve se unir para estarmos mais preparados para novas catástrofes", destacou Piñera, garantindo que seu governo fará o que for necessário para priorizar a reconstrução do país.
Estados Unidos, Brasil, ONU e vários países europeus manifestaram seu pesar e ofereceram ajuda ao Chile.
O presidente americano, Barack Obama, lamentou as "centenas de mortos" no tremor e disse que os Estados Unidos "estão prontos para ajudar" as autoridades chilenas nas operações de socorro e reconstrução.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou sua "profunda preocupação" e se colocou à disposição para oferecer "a assistência que for necessária".
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, prestou suas "condolências aos que perderam membros da família e amigos" na tragédia.
O chanceler chileno, Mariano Fernández, pediu aos países que ofereceram ajuda humanitária que não enviem nada até que os serviços de emergência divulguem suas necessidades reais.
"Não é preciso que qualquer país envie ajuda antes que se determine as necessidades (...) Uma ajuda que chega sem pedido definido não auxilia muito", explicou o chanceler, que citou o exemplo do Haiti.
A possibilidade de um tsunami colocou uma vasta área do Pacífico em estado de alerta, incluindo Havaí, Califórnia, Austrália, Filipinas e Polinésia, mas estas regiões foram atingidas apenas por pequenas vagas.
Na Austrália, as autoridades registraram uma elevação do nível do mar de apenas "alguns centímetros", e no Havaí houve um aumento do nível do mar de menos de um metro (três pés). Na Califórnia, o fenômeno foi mínimo.
Na Polinésia, o arquipélago das Marquesas (nordeste) foi atingido por uma série de ondas de quase dois metros, mas exceto por danos menores em barcos, não ocorreram maiores problemas. O mar recuou cerca de 15 metros entre uma onda e outra, segundo um funcionário local.
As ilhas de Tahiti e Moorea, onde vive a maior parte da população polinésia, foram atingidas por vagas de menos de 50 centímetros, do mesmo modo que as ilhas Gambier.
O terremoto de hoje foi o segundo mais potente dos últimos 20 anos, atrás apenas do tremor de 9,1 graus na escala Richter registrado em dezembro de 2004 na costa da Indonésia, que desencadeou a tsunami que matou 220.000 pessoas.
Em 1960, o Chile foi alvo do terremoto mais forte já registrado no mundo, de 9,5 graus Richter, que deixou 3.000 mortos. O país se encontra no ponto de convergência de duas grandes placas tectônicas.
A maioria das construções da capital não sofreu danos externos, embora muitas tenham sido afetadas no interior, principalmente com vidros quebrados e objetos derrubados.
O Chile está acostumado com os terremotos, e conta com uma legislação rigorosa para a construção de imóveis, que devem ser equipados com dispositivos de segurança para aguentar a força dos tremores.