Agência France-Presse
postado em 01/03/2010 18:47
A colaboração da ETA, organização separatista basca, com as Farc, Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, para ayudar a guerrilha colombiana a formar ativistas para a prática de atentados na Espanha, contra personalidades colombianas, contou com a "cooperação do governo" venezuelano. A denúncia é do juiz espanhol Eloy Velasco, da Audiência Nacional, principal instância penal espanhola, que citou, entre as possíveis vítimas, o presidente, Alvaro Uribe.O magistrado decidiu, assim, processar seis presumíveis membros da ETA e sete das Farc por sua possível colaboração em tentativa de assassinato, segundo o auto processual divulgado nesta segunda-feira.
Velasco acredita que o presidente Uribe foi incluído numa lista de possíveis objetivos das Farc na Espanha, para cujo eventual assassinato pediram ajuda a ETA, segundo o auto publicado.
Uribe assinalou à rádio privada RCN de Bogotá que não fica surpreendido com o fato de as Farc tentarem assassiná-lo, mas mostrou-se prudente sobre a possibilidade de a Venezuela cooperar com a ETA e as Farc. "Temos que ter uma reação prudente e olhar o que está acontecendo através de canais diplomáticos", disse Uribe à RCN, a partir do Uruguai.
[SAIBAMAIS]O chefe do governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, confirmou por sua vez, em entrevista à imprensa, na Alemanha, que Madri pediu explicações a Caracas. "O ministro das Relações Exteriores (Miguel Angel Moratinos) fez uma gestão oportuna ante o governo da Venezuela para que dê uma explicação sobre as informações divulgadas por funcionários da Audiência Nacional".
Segundo o juiz Velasco, as Farc chegaram a vigiar o ex-presidente colombiano Andrés Pastrana, que vivia em Madri, e a embaixada colombiana, considerando-os objetivos fáceis "desde que contassem com a ajuda da ETA".
Por isso, as Farc "pediram a membros da ETA colaboração para localizar na Espanha", além de Pastrana e Uribe, outras personalidades como o vice-presidente colombiano Francisco Santos, entre outros.
A ajuda da ETA está comprovada num correio eletrônico no computador apreendido de Raúl Reyes, número dois das Farc, que morreu numa operação colombiana contra a guerrilha, no Equador, em março de 2008.
A informação conseguida depois da morte de Reis levou precisamente a promotoria da Audiência Nacional a oferecer queixa, em dezembro de 2008, o que desembocou nos atuais procedimentos.
O juiz Eloy Velasco insiste, em seu auto processual, que seis supostos membros da ETA e sete das Farc "utilizaram a cooperação governamental venezuelana na colaboração ilícita entre as Farc e a ETA".
Velasco considera que isso ocorre, especialmente, no caso do suposto membro do ETA Arturo Cubillas Fontán, um dos envolvidos.
Cubillas é casado desde 1990 com a venezuelana Goizeder Odriozola Lataillade, que ocupou cargos públicos no governo venezuelano do presidente Hugo Chávez. Trabalhou, também, em 2005 no gabinete de Administração e Serviços do ministério de Agricultura e terras da Venezuela, segundo o auto judicial.
O suposto ativista foi "dirigente do grupo ETA nesta área da América desde 1999, encarregando-se de coordenar as relações com as Farc e a participação de integrantes do ETA em cursos de explosivos e armamentos e na difusão de técnicas de guerrilha urbana terrorista", segundo o juiz Velasco.
Fontán é acusado pelo juiz, junto com os considerados principais membros das Farc, Edgar Gustavo Navarro Morales e Víctor Ramón Vargas Salazar, de "crime de conspiração para cometer homicídios terroristas".
Junto aos "etarras" José Angel Urtiaga Martínez e José Miguel Arrugaeta San Emeterio, os membros das Farc, Emiro del Carmen Ropero, Rodrigo Granda, Remedios García, Luciano Martín e Omar Arturo Zabala, também são acusados de colaboração com grupo terrorista.
No final da tarde, a Venezuela qualificou de "inaceitável" a denúncia formulada nesta segunda-feira pelo juiz espanhol sobre uma suposta cooperação entre o governo do presidente Hugo Chávez, a guerrilha das Farc e o grupo separatista basco ETA, informou a chancelaria venezuelana em comunicado.
"O Governo da República Bolivariana da Venezuela teve conhecimento, pela imprensa, do auto processual emitido por um juiz espanhol, no qual são feitas revelações inaceitáveis, de natureza e motivação política, sobre o governo venezuelano", diz o comunicado.