postado em 04/03/2010 08:48
São Paulo - Depois de quatro dias de espera, brasileiros que estavam retidos no Chile começaram a desembarcar ontem em São Paulo e no Rio de Janeiro. Os voos comerciais da Gol, da TAM e da Lan Chile começaram a operar na madrugada de ontem. Até as 18h, cerca de 900 brasileiros que testemunharam o tremor de magnitude 8.8 na escala Richter pisaram em solo brasileiro. No saguão de desembarque, a emoção tomava conta de passageiros e parentes.
[SAIBAMAIS]O engenheiro civil Carlos Madariaga, 43 anos, desembarcou aos prantos em Guarulhos, às 15h20, de um voo da TAM. Ao ver as duas filhas no saguão, largou o carrinho com as bagagens e se abraçou aos familiares. "Veio até um vizinho me receber", contou, entre choro e riso. Madariaga está com um dedo do pé quebrado. Ele relata que estava no hotel na noite do terremoto, assistindo à TV. "É uma sensação estranha. A terra tremeu bastante, mas não desmoronou nada perto de mim. Bateu um pânico, saí correndo e dei uma topada no pé de um móvel", conta.
Ao sair do hotel e dar uma volta pela cidade. Madariaga testemunhou cenas de terror. "Parecia que estava num filme de catástrofe. Prédios tortos, uns ainda balançavam e pastilhas e janelas desabavam. As pessoas gritavam como o mundo estivesse acabando", relata. O engenheiro, que trabalha com fundações, filmou parte da destruição para mostrar aos seus alunos de um curso de especialização da Universidade de São Paulo (USP).
A escritora Suely Caldas, 33 anos também desembarcou aos prantos em Guarulhos. Ela estava num encontro de profissionais da área e, no momento em que a terra tremeu, dormia na casa de uma amiga. "A cama balançou como se passasse uma onda por baixo do chão. Ela levantou e baixou em frações de segundos. Achei que estava desabando tudo. Por sorte, apenas os vidros da janela quebraram. Todas as portas da casa ficaram emperradas", relata. De São Paulo, Suely ainda ia pegar outro avião para Goiânia, onde mora.
Queixas
Além de susto e alívio, a maioria dos brasileiros que desembarcaram em Guarulhos ontem trouxe na bagagem uma série de reclamações. Os maiores alvos são a embaixada brasileira no Chile, as companhias aéreas, o serviço dos hotéis e a falta de informação no Aeroporto Internacional de Santiago. "A cidade está um caos. Ninguém informa nada e no aeroporto não tem água mineral para vender", conta a estudante Déborah Fontenelle.
A psicóloga Adriana Albuquerque, 39 anos, foi outra a desembarcar chorando muito. Depois de passar dois dias no aeroporto sem qualquer previsão de embarque para o Brasil, resolveu voltar ao hotel, onde era bem tratada. "A equipe do hotel em que estávamos hospedados nos dava muita assistência. Já a embaixada brasileira não nos ajudou em nada", reclama a psicóloga.
Os brasileiros também se queixaram do socorro prestado pela Força Aérea Brasileira (FAB). Segundo as reclamações, a prioridade a idosos e mulheres com criança não foi respeitada na hora do embarque. "Na primeira leva, só vieram os mais importantes. Os menos importantes ficaram por lá", disse o escritor Antônio Albuquerque. O Ministério das Relações Exteriores garantiu que respeitou as prioridades, "na medida do possível".
A TAM e a Lan Chile trouxeram ontem a maioria dos brasileiros que estava em Santiago. Por meio de nota, a Gol informou que voltou a operar ontem à noite para o Chile. Uma aeronave da companhia, com capacidade para 184 passageiros, partiu do Rio de Janeiro, às 18h10, e outra de São Paulo, às 20h. Todos os voos que saem do Brasil levam os chilenos que estavam fazendo turismo em terras tupiniquins.