Agência France-Presse
postado em 05/03/2010 18:39
Três fortes tremores secundários voltaram a espalhar terror, nesta sexta-feira (5/3), entre chilenos já traumatizados pelo violento terremoto e pela tsunami que o seguiu, há quase uma semana, enquanto o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, chegava para verificar os danos.Um primeiro tremor secundário, de 6,2 graus, tirou as pessoas da cama às 6h20 (hora local e de Brasília) desta sexta-feira, seis dias depois do violento terremoto que, junto com a tsunami, deixou mais de 800 mortos e quase dois milhões de sem-teto. O primeiro abalo foi seguido por um segundo tremor, de 6,8 graus, um dos mais fortes dos cerca de 200 que já sacudiram o Chile desde o fim de semana, antes de um terceiro terremoto, de 6,6 graus.
Alguns prédios danificados de Concepción, a segunda cidade do país, não resistiram e caíram, mas segundo os serviços nacionais de emergência, os três terremotos não deixaram feridos ou causaram maiores danos. De acordo com um comunicado oficial, o chefe do Serviço Oceanográfico, Mariano Rojas, foi tirado do cargo na sexta-feira e o comandante da Marinha abriu uma investigação sobre "o processo decisório que se seguiu à catástrofe natural".
Oficiais admitiram um erro de diagnóstico após o terremoto e disseram ter passado "informações muito pouco claras" à presidente Michelle Bachelet sobre manter ou suspender o alerta de tsunami, enquanto as ondas gigantes já varriam a costa do Pacífico.
[SAIBAMAIS]Embora o funcionamento em bancos e lojas mostrem um retorno à normalidade na cidade de Talca, 300 km ao sul da capital, algumas pessoas dormiam ao relento e criticavam a negligência do governo. No centro da cidade, uma multidão enfurecida fazia buzinaços e queimava pneus no centro da cidade. "Precisamos de ajuda, precisamos de comida. A polícia não nos dá segurança", dizia uma faixa escrita a mão.
O governo voltou a dizer nesta sexta-feira (5/3) que está enviando suprimentos a todo o país, montando hospitais de campanha, e que a polícia deteve 327 pessoas, muitos por ignorar o toque de recolher, no esforço para manter a calma nas regiões mais atingidas.
Após o terremoto de sábado, o clima de tensão e os saques se espalharam pelas regiões atingidas. Bachelet respondeu com o envio de 14 mil soldados e a decretação de toques de recolher estritos, uma medida sem precedentes desde o fim da ditadura militar, em 1990. Os aplausos com que os soldados chilenos são recebidos demonstram a mudança por que passou o Exército desde os dias do violento regime repressor de Pinochet. "O Exército tem sido fabuloso", disse o professor aposentado Osvaldo Fuentes, de 69 anos, em Constitución, após pegar água de um caminhão militar. "Todos aplaudem" os militares, acrescentou.
Enquanto isso, a companhia aérea chilena LAN informou ter aumentado para 54% a normalização de suas operações.
O Chile decretou três dias de luto nacional, a partir da meia-noite de domingo, com bandeiras hasteadas a meio-mastro nas portas de casa, em respeito aos mortos no cataclisma. O número oficial de mortos permanece em 802, embora Bachelet tenha afirmado que este balanço possa ser revisto em função de 200 desaparecidos na região atingida pela tsunami.