Agência France-Presse
postado em 15/03/2010 18:26
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse "sonhar" com a paz no Oriente Médio, durante visita nesta segunda-feira (15/3) a Jerusalém, a primeira realizada por um chefe de Estado brasileiro a Israel e aos Territórios palestinos. Lula efetua a visita no momento em que Israel vem sendo alvo de vivas críticas internacionais, após o anúncio de construção de 1.600 casas na Jerusalém Oriental anexada. O Brasil condenou esta decisão controversa."Senhor Peres, sonho com o dia no qual o Oriente Médio terá paz, para que todos os povos da região possam se beneficiar da prosperidade", declarou Lula, durante encontro com o presidente israelense Shimon Peres. ;Eu acho que o vírus da paz está comigo desde que estava no útero da minha mãe. Não me lembro do dia em que briguei com alguém", continuou o presidente.
Bem-humorado, Lula arrancou risos da plateia, inclusive de Shimon Peres, ao afirmar que no PT há divergências que causam inveja a qualquer um. "Já fiz muita disputa política, pertenço a um partido complicado. (...) Temos divergências políticas de causar inveja a qualquer pessoa do mundo", afirmou. "A nós brasileiros não nos interessa sermos grandes e ricos, se estivermos cercados de pobres. Não é sensato do ponto de vista da geopolítica estar cercado de gente mais pobre que você de todos os lados", afirmou Lula.
Lula foi recebido com honras militares, pelo presidente Shimon Peres, reunindo-se, em seguida, com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e a líder da oposição, a ex-chefe da diplomacia israelense, Tzipi Livni. À tarde, pronunciou um discurso diante da Knesset, o Parlamento israelense, durante o qual exortou as duas partes a "superar antagonismos". "O Estado de Israel deve viver ao lado de um Estado palestino. Deve haver uma coexistência", destacou.
Ressentimentos
O discurso do presidente brasileiro na Knesset e o jantar oficial foram boicotados pelo chanceler israelense, o ultranacionalista Avigdor Lieberman, que manifestou descontentamento pelo fato de o presidente brasileiro não ter depositado coroa de flores no túmulo de Theodore Herzl, o jornalista austríaco-húngaro, fundador do movimento sionista que levou à criação do Estado de Israel. Funcionários brasileiros disseram que Lula não pôde fazê-lo devido, unicamente, à sua agenda apertada.
Fontes próximas a Lieberman - líder do partido de extrema direita de Israel disseram que Lula quebrou o protocolo da viagem, uma vez que a visita ao local "faz parte das regras de cerimônia e amizade entre nações".
O presidente do Brasil, país que participa como membro não-permanente do Conselho de Segurança da ONU, também defende o diálogo com Teerã, enquanto Israel procura isolar e conseguir a imposição de sanções radicais contra o Irã. Já Netanyahu pediu ao Brasil que "se some à coalizão internacional formada contra o Irã". "Esta coalizão reúne numerosos países que querem impedir o Irã de se dotar de arma nuclear", disse o premier israelense.
Elogios diplomáticos
Lula, que está acompanhado de uma delegação de 80 empresários, iniciou domingo a visita considerada histórica a Jerusalém. Ele participou o presidente Peres do sinal verde dado pelo Brasil ao acordo de livre comércio entre Israel e Mercosul, o mercado comum sul-americano. Israel é o primeiro país fora das fronteiras da América Latina a assinar um tal acordo com o Mercosul.
O presidente brasileiro felicitou-se com o reforço dos liames econômicos bilaterais, marcados, principalmente, pela assinatura, nesta segunda-feira, de um acordo nos domínios da ciência, da segurança, da alta tecnologia, da agricultura e das indústrias espaciais.
[SAIBAMAIS]Lula também conversou com empresários israelenses sobre as oportunidades de investimento no Brasil, citando o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a Copa do Mundo, as Olimpíadas, o trem de alta velocidade entre Campinas, São Paulo e o Rio e as oportunidades de exploração de petróleo na Bacia de Campos.
Segundo o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, durante a reunião de Lula com Peres foi discutida a possível participação do Brasil no processo de paz. "Valorizou muito o papel do Brasil numa situação de ajudar a promover o diálogo. Peres achou que essa capacidade de fazer amigos com todos pode ser muito útil, mas ainda não era o momento de discutir detalhes", explicou Amorim.
Lula irá nesta terça-feira (16/3) à Cisjordânia para se encontrar com os dirigentes palestinos, antes de visitar a Jordânia, quarta-feira. A viagem de Lula ao Oriente Médio representa o mais importante esforço feito até agora pelo governo para tentar situar o Brasil como interlocutor para as negociações entre israelenses e palestinos.