Agência France-Presse
postado em 16/03/2010 11:34
O Vaticano reconheceu nesta terça-feira que existem casos de abuso sexual de menores cometidos por sacerdotes no Brasil e desmentiu que os responsáveis sejam "bispos", indicou o porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi.
"Eram padres", afirmou Lombardi ao se referir às notícias divulgadas pela agência de notícias brasileira UOL Notícias, que cita as denúncias feitas pelo programa de televisão do canal SBT "Conexão Repórter" em que vários alunos relatam casos de abusos por parte de "dois monsenhores e um sacerdote".
O porta-voz do Vaticano reconheceu que dois dos três religiosos citados possuíam o título honorífico de "monsenhor", embora fossem simples padres, o que a Igreja consente em casos particulares. "Foi confirmado que nenhum dos três envolvidos era bispo. Um deles foi afastado da paróquia e será julgado pela justiça civil", disse Lombardi.
"Os outros dois foram suspensos de suas tarefas eclesiásticas e estão sendo submetidos a um processo canônico por suspeita de pedofilia, mas até agora negam tudo", acrescentou o porta-voz do Vaticano.
O site UOL Notícias informou que a Igreja brasileira afastou no final de semana passado das funções eclesiásticas "dois monsenhores e um padre" do município de Arapiraca, a 130 quilômetros de Maceió, depois de terem sido acusados de pedofilia por alunos de um coro e por seus familiares.
O caso explodiu no dia 11 de março, quando a repórter do programa entrevistou vários ex-coristas que relataram casos de abusos sexuais cometidos pelos sacerdotes com crianças e adolescentes.
Um vídeo mostra um dos dois "monsenhores", Luiz Marques Barbosa, de 82 anos, no momento em que mantém relações sexuais com um jovem de 19 anos. A gravação foi feita em janeiro de 2009, ao que parece, por outro jovem que sofreu abusos.
O jovem contou que desde os 12 anos, quando entrou para a Igreja, era alvo do assédio sexual por parte do chamado "monsenhor". O caso consternou a opinião pública brasileira e gerou uma onda de denúncias de novos casos na imprensa e na polícia.
De acordo com o advogado do "monsenhor" Marques, conhecido por ser um dos religiosos mais conservadores da região, as relações sexuais filmadas foram consentidas e ele rejeitou que se trate de pedofilia.
O advogado assegurou que os jovens tentaram extorquir o religioso e até assinaram um documento no qual se comprometiam a não divulgar o vídeo em troca de dinheiro. Os outros dois sacerdotes também negam que tenham abusado de menores.
Este foi o primeiro caso denunciado recentemente na América Latina após a série de escândalos por pedofilia que afeta vários países da Europa, entre eles Alemanha, Irlanda, Holanda, Suíça e Áustria.
O fenômeno poderá se estender ao restante do continente após a revelação nesta terça-feira de que um religioso espanhol da congregação dos Clérigos de San Viator foi detido no Chile por posse de pornografia infantil e por ter supostamente abusado de pelo menos 15 menores em colégios espanhóis.