Agência France-Presse
postado em 16/03/2010 18:37
MONTEVIDÉU - O presidente uruguaio, José Mujica, reuniu-se pela primeira vez nesta terça-feira com as Forças Armadas, em um encontro que gerou expectativa por conta de seu passado como líder guerrilheiro. Durante o evento, ele defendeu, entre outros assuntos, melhores salários para os militares.
Apesar de Mujica, ex-líder tupamaro, ter mantido silêncio em relação ao conteúdo de sua mensagem aos oficiais, ele reconheceu a defasagem salarial nas forças militares, segundo foi possível escutar antes de a imprensa ter sido retirada do local. O encontro ocorreu em Durazno (a 180 km de Montevidéu).
Mesmo assim, a ministra da Habitação, Graciela Muslera, disse em declarações às emissoras de rádio que um dos temas previstos era pedir "apoio" para um plano de emergência no setor de moradia.
Por outro lado, esperava-se que, no encontro, que ocorreu na Base Aérea N°2 de Santa Bernardina, em Durazno (centro do país), o presidente desse um sinal sobre sua política de direitos humanos e deixasse claro que não terá espírito de vingança apesar de seu passado de guerrilheiro.
De fato, ao empossar seu ministro da Defesa, em 2 de março, um dia depois de assumir o mandato, Mujica enviou uma mensagem conciliadora às Forças Armadas, ao afirmar que estas "são imprescindíveis" para a construção do país, pedindo para que não se vivesse com "nostalgia".
Mujica, que colocou o ex-tupamaro Luis Rosadilla à frente da pasta da Defesa, disse que cada qual terá de carregar seu peso, mas que os pesos não são um exercício de "acertar as contas, quando é preciso construir".
O presidente, que em 1972 - depois da derrota militar da guerrilha - foi preso político da ditadura (1973-1985) até sua libertação juntamente a outros companheiros em 1985 durante a anistia, pronunciou-se a favor de libertar ou dar prisão domiciliar aos idosos com mais de 70 anos, entre eles, os condenados por violações aos direitos humanos.
Durante o governo de Tabaré Vázquez (2005-2010), a Justiça condenou oito ex-repressores - alguns deles com mais de 70 anos - e os ex-ditadores Juan Bordaberry (1973-1976), 81 anos, e Gregorio Alvarez (1981-1985), 84 anos, por esse tipo de delito.
Os processos e condenações ocorreram durante a Lei de Caducidade, que obriga a Justiça a consultar o Poder Executivo sobre os casos de violações aos direitos humanos que podem ser julgados.
A ditadura deixou 38 desaparecidos no Uruguai, 182 na Argentina, oito no Chile, dois no Paraguai e um no Brasil, segundo a Comissão para a Paz, criada no ano 2000.