Agência France-Presse
postado em 17/03/2010 16:43
A decisão do presidente peruano, Alan García, de destituir o ministro da Justiça que concedeu indulto a um empresário de TV, deixou insatisfeita a oposição política, que teme a volta de práticas de corrupção e possíveis cortes da liberdade de imprensa.Porta-vozes do Partido Nacionalista, de esquerda, e da conservadora Unidade Nacional (UN), pediram explicações ao presidente sobre o indulto concedido em dezembro e anulado no último sábado, a José Enrique Crousillat, ex-dono da América TV, a rede de televisão mais importante do país.
O caso gerou uma tempestade política no Peru, que terminou com a decisão de García, na terça-feira, de destituir Aurelio Pastor do ministério da Justiça. Pastor se negava a apresentar o pedido de demissão.
Segundo o congressista Raúl Castro (UN), "o moribundo" Crousillat, a quem Garcia concedeu o indulto por questões de saúde, tornou-se, depois, "um tigre que passeava por praias e restaurantes".
"Aparentemente foi negociado um indulto com a finalidade de recuperar a América TV", que agora pertence ao grupo Plural, formado pelos jornais El Comercio e La República, o que afetaria a liberdade de imprensa, afirmou a emissora RPP.
A parlamentar nacionalista Marisol Espinoza advertiu que Crousillat "não é um adoentado, e sim um seguidor da máfia fuji-montesinista", em alusão à rede de corrupção formada por Vladimiro Montesinos, ex-braço direito no governo de Alberto Fujimori (1990-2000).
Para Espinoza, existem indícios de que o governo está abrindo as portas para a volta dos setores vinculados a Montesinos e Fujimori, este último condenado a 25 anos de prisão por violação dos direitos humanos.
Por isso, ambos os congressistas afirmaram que há um "fundo político" no indulto e exigiram que sejam realizadas investigações para esclarecer as verdadeiras razões da concessão do benefício, defendida pelo ex-ministro.
Após obter o indulto, Crousillat entrou na justiça numa cidade do norte do Peru para tentar recuperar a propriedade da América TV, mas seu pedido foi negado. Agora, é procurado pela polícia.
Crousillat foi condenado em 2006 a oito anos de prisão por corrupção, após vender a linha editorial da América TV ao governo Fujimori.