postado em 20/03/2010 07:00
Mais três vozes de peso se somaram aos Estados Unidos na cobrança a Israel para que congele a colonização judaica nos territórios palestinos, em especial no setor oriental (árabe) de Jerusalém, para descongelar o processo de paz com a Autoridade Palestina. Reunidos em Moscou, os representantes do Quarteto ; articulação diplomática para o Oriente Médio, que inclui EUA, Rússia, União Europeia (UE) e as Nações Unidas (ONU) ; aprovaram uma declaração que fixa também o prazo de dois anos para que seja concluído um acordo de paz definitivo. A escalada de tensão, porém, prosseguiu: a aviação israelense bombardeou a Faixa de Gaza pela segunda noite consecutiva, em represália a disparos de mísseis contra seu território, e atingiu o aeroporto do enclave palestino, inativo desde uma ofensiva anterior.
;O Quarteto condena a decisão do governo israelense de avançar com o plano de construir mais 1.600 casas (1) em Jerusalém Oriental;, afirmou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, ao fim do encontro com o chanceler russo, Sergei Lavrov, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, e a alta representante da UE para política externa, Catherine Ashton. Participou também da reunião o enviado especial do grupo, o ex-premiê britânico Tony Blair.
A declaração conjunta convoca Israel a suspender todas as atividades de assentamento, ;inclusive o crescimento natural;, a desmantelar as colônias erguidas após março de 2001 e a ;refrear as demolições e construções em Jerusalém Oriental;. O Quarteto expressa confiança em um acordo que dê vida a ;um Estado Palestino independente, democrático e viável, lado a lado, em paz e segurança, com Israel e seus vizinhos;. O texto exige ainda a ;reunificação de Gaza e Cisjordânia; sob o governo ;legítimo; da Autoridade Palestina (AP) ; desde 2007, Gaza está sob controle do grupo extremista islâmico Hamas, à revelia da AP.
Os quatro líderes mundiais pediram a Israel que levante, por razões humanitárias e comerciais, o bloqueio imposto a Gaza desde a ofensiva militar de três semanas contra o Hamas, na virada de 2008 para 2009 ; uma resposta aos incessantes disparos de mísseis contra cidades israelenses a partir do território palestino. A medida deve ser acompanhada pelo fim do tráfico de armas para o Hamas.
Horas antes da reunião de Moscou, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, telefonou para Hillary Clinton e detalhou as medidas que estaria disposto a tomar para restabelecer o processo de paz e encerrar o atrito diplomático com Washington. A iniciativa foi uma resposta ao pedido da Casa Branca para que Neranyahu demonstre compromisso com o diálogo. Hillary descreveu a conversa como ;muito útil e produtiva;. ;Nós não acreditamos que ações unilaterais ajudem, e deixamos isso muito claro;, destacou a americana.
Apesar da conversa amigável, os dois mísseis lançados na quinta-feira a partir de Gaza contra um kibutz israelense, com saldo de um morto, aumentaram a tensão. Em represália, a aviação israelense atacou seis pontos de Gaza na madrugada de ontem, causando destruição material, mas não vítimas. Apesar da escalada, o enviado dos EUA para o Oriente Médio, George Mitchell, confirmou em Moscou que visitará a região na próxima semana.
Reações
O chanceler israelense, Avigdor Lieberman, reclamou ontem do prazo de 24 meses para o acordo de paz com os palestinos, fixado pelo Quarteto. ;A paz não pode ser imposta artificialmente por um calendário irrealista;, disse Lieberman em mensagem dirigida à comunidade judaica de Bruxelas. ;Esse tipo de declaração apenas compromete as chances de alcançarmos um acordo.;
A AP, por seu lado, comemorou a declaração de Moscou e expressou a esperança de ver o pedido concretizado. ;Pedimos ao Quarteto que transforme seus comunicados em mecanismos vinculantes, para que Israel cumpra com seus compromissos e, em particular, interrompa todas as atividades de colonização na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental;, declarou o principal negociador palestino, Saeb Erekat. ;Também gostaríamos que o Quarteto criasse um mecanismo de vigilância, para ter a certeza de que Israel interrompeu totalmente a colonização.;
1 - Aliança em teste
O plano de expansão das colônias em Jerusalém Oriental, anunciado por Israel durante a visita do vice-presidente dos EUA, Joe Biden, foi recebido como ;um insulto; pela secretária de Estado Hillary Clinton. Ela telefonou para o premiê Benjamin Netanyahu para deixar clara a oposição de Washington à iniciativa, o que obrigou o presidente Barack Obama a declarar em público que ;não há crise; entre os dois países. Netanyahu visitará Washington na próxima semana para discutir a divergência pública.