Clara Pérez Gómez vê o marido ; o psicólogo e jornalista Guillermo Fariñas ; desistir aos poucos da vida, em um ato de repúdio e protesto contra o governo de Cuba. ;Eu não tenho medo da morte dele, mas estou muito preocupada e orei muito por nós;, afirmou a mulher ao Correio, por telefone. Segundo ela, o estado de saúde do dissidente político, em greve de fome e de sede há 27 dias, piorou muito na madrugada de ontem. A febre persistente levou os médicos a colherem material para um hemograma, sob suspeita de infecção. ;A situação dele está se complicando. Reclama de dores de cabeça e nas articulações. Neste momento, está com 38,2 graus de febre, mas à noite chegou a 39;, disse Clara, às 17h de ontem (hora de Brasília).
[SAIBAMAIS]Às 11h30, quando chegou à Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Provincial Arnaldo Millian Castro, em Santa Clara (a 268km de Havana), ela encontrou o marido dormindo, sob o efeito de medicamentos. Clara diz respeitar a decisão do dissidente e começa a se preparar para o pior. ;Não tenho muita esperança de que o governo de Cuba vá libertar os 26 prisioneiros políticos de consciência;, comentou. ;O regime não faz concessões, não está acostumado a ceder;, acrescentou. Ela comentou ter a mesma opinião de Guillermo sobre a relação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com os irmãos Fidel e Raúl Castro. ;Lula está atuando como o regime cubano atua;, concluiu. Na última sexta-feira, em entrevista ao Correio, Guillermo Fariñas não poupou Lula, ao afirmar que ele é ;tão assassino quanto Raúl e Fidel;.
Licet Zamora, porta-voz do dissidente político, confirmou à reportagem que Guillermo recebeu, no sábado, a visita do major Héctor de La Fé Freyre, chefe do Departamento de Atividades Contrarrevolucionárias. Foi a primeira autoridade de Cuba a se reunir com o jornalista. ;O objetivo de Héctor foi solicitar que ele suspendesse a greve de fome, porque seu organismo já está muito deteriorado. Guillermo negou-se a atendê-lo. Não houve negociações. Ele não trouxe proposta alguma;, relatou. ;Guillermo disse-lhe que não aceita o perigo de vida ao qual seus companheiros presos estão submetidos e pediu-lhe que fosse embora, pois estava cansado.; Ela relatou que o jornalista esboçou indignação. Segundo Licet, Guillermo reagiu com a seguinte frase: ;Por que ele (Héctor) veio, se não há negociações possíveis?;, contou.
Germe
A assessora admitiu a possibilidade de Guilermo Fariñas ter contraído algum micro-organismo pela abertura do catéter que estava em seu pulso esquerdo, que precisou ser trocado. ;Os médicos estudam lhe administrar um potente antibiótico. A febre é um indício de infecção;, comentou Licet. ;Ele me disse que seu protesto pacífico continuará até que a demanda seja atendida.; Ela negou que a atitude de seu cliente seja uma forma de pressionar as autoridades. ;Trata-se de uma questão humanitária. Não se entende que uma pessoa, apenas por pensar de modo diferente, tenha de cumprir uma pena de 25 ou 30 anos;, concluiu.
Entrevista com Clara Pérez Gomez, mulher do dissidente cubano Guillermo Fariñas