Agência France-Presse
postado em 23/03/2010 19:20
O ex-ditador uruguaio Juan Bordaberry, de 81 anos, recebeu em cadeira de rodas e ligado a um balão de oxigênio a notificação da condenação a 30 anos de prisão por atentado contra a Constituição e violações dos direitos humanos, informaram advogados que atuaram no caso, nesta terça-feira (23/3).Bordaberry, que exerceu o poder entre 1973 e 1976 e que cumpre prisão domiciliar desde 2006 devido ao estado de saúde delicado, foi levado de ambulância à magistrada Mariana Mota, que preside o caso.
A imprensa não teve acesso ao ex-ditador, que chegou acompanhado de vários de seus filhos. "Vi-o na cadeira de rodas e com um tubo", disse à imprensa Hebe Martínez Burlé, a advogada de acusação do caso.
"Ao entrar no lobby do juizado para chegar ao elevador, há uma das portas que não abre, e por isso não foi possível que ele passasse por ali", relatou Martínez Burlé.
"Efetivamente, não pôde ingressar no local e, por isso, desceram para ler a sentença", disse à AFP o advogado de defesa de Bordaberry, Gastón Chávez.
Martínez Burlé qualificou como "memorável" a sentença contra Bordaberry, em particular a condenação pelo golpe de Estado de 1973. Mas, entre os crimes pelos quais é acusado, o "atentado contra a Constituição é o mais importante", afirmou.
"Hoje a justiça foi feita", acrescentou Burlé, que acredita que "a partir deste momento, o Sr. Bordaberry deve ser tratado como réu no processo contra o Estado".
Chavéz afirmou que apelará da sentença. "Temos dez dias úteis para apresentar nossa apelação".
Com a apresentação de atestados médicos, a defesa de Bordaberry havia pedido que ele fosse notificado em casa.
O informe forense indicou que Bordaberry sofre, entre outras doenças, de fibrose pulmonar e câncer de bexiga e, por isso, "seu transporte (ao juizado) seria inconveniente, exceto nas circunstâncias sugeridas pelos médicos", ou seja, em cadeira de rodas e com oxigênio.
Apesar disso, a juíza Mota decidiu que ele fosse levado à sede judicial nesta terça-feira.
Em fevereiro passado, Mota condenou Bordaberry a 30 anos de prisão, com possibilidade de mais 15, por "crime de atentado contra a Constituição e nove por desaparecimento forçado e dois de homicídio político", segundo a sentença.
O presidente José Mujica expressou em várias oportunidades sua vontade de libertar ou enviar para as casas os presos com mais de 70 anos, alegando "razões humanitárias".