Agência France-Presse
postado em 25/03/2010 15:54
No dia seguinte à demissão de um bispo envolvido no escândalo de pedofilia na Irlanda, aumenta a pressão sobre o primaz da Igreja Católica desse país, o cardeal Sean Brady, no centro de uma polêmica por ter silenciado sobre os abusos sexuais.O papa Bento XVI aceitou nesta quarta-feira a demissão de um bispo ligado ao escândalo, o segundo caso em poucos meses. Monsenhor John Magee foi citado em um relatório de 2008 por ter ocultado os casos de dois sacerdotes da diocese de Cloyne (sul do país), acusados de abusos sexuais contra menores.
Mas o descrédito da Igreja Católica irlandesa é tal que diversas vozes, inclusive entre as famílias das vítimas, exigem que se faça uma limpeza na liderança da instituição. "Precisamos de alguém que não esteja absolutamente envolvido nas violações e torturas de crianças", declarou à AFP Christine Buckley, diretora da associação de ajuda às vítimas Aislinn Centre, e que também foi maltratada em um orfanato dirigido por religiosas.
[SAIBAMAIS]O cardeal Brady teve que pedir perdão na semana passada depois que a Igreja admitiu que em 1975, cuando era sacerdote, participou de reuniões secretas nas quais duas supostas vítimas de abusos sexuais tinham assinado promessas de silêncio.
As autoridades eclesiásticas investigavam então o padre Brendan Smyth, que foi condenado à prisão de quase 20 anos depois de ser considerado culpado por abusos sexuais contra centenas de meninos ao longo de quatro décadas.
O cardeal Brady, 70 anos, declarou-se "envergonhado, porque nem sempre defendi os valores que defendo e nos quais acredito". Justificou a ausência de denúncias em relação a esses abusos com a cultura do "silêncio" e do "segredo" que reinava na época.
No entanto, para seus acusadores, as desculpas não são suficientes. Considerado um homem humilde e íntegro, o cardeal Brady afirmou em um primeiro momento que apenas pediria demissão se isso fosse pedido pelo Papa, antes de dar a entender, posteriormente, que refletiria sobre seu futuro durante a Páscoa.
Para Christine Buckley, seu nome está irremediavelmente manchado e ele deve deixar seu posto. "Por que um homem de 35 ou 35 anos toma declarações de meninos de 10 ou 14 anos? Vou dizer porque: para seguir encobrindo", completa.
O primaz deveria ter esclarecido seu papel no caso Smyth quando foi empossado cardeal, há três anos, argumenta. "Por que não não fez o que seria respeitável, dizendo o que aconteceu? Poderia ter deixado as pessoas decidirem e poderia ser compreendido".
Mas, para Patsy McGarry, o correspondente religioso do Irish Times, falar de sua demissão é um "debate irrelevante". De toda maneira, ocorreria "tarde demais" para restaurar a reputação da Igreja irlandesa.
"A Igreja Católica na Irlanda, tal como a conhecemos, foi seriamente afetada e provavelmente afetada demais para conseguir se arrumar", escreveu recentemente. "Está afundando, afundando rápido".