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"É evidente que Ratzinger sabia", diz norte-americano que sofreu abusos do padre Murphy

postado em 26/03/2010 13:20
O norte-americano Arthur Budzinski vai levar para sempre as memórias dos abusos sofridos nas mãos do padre Lawrence C. Murphy. Nos momentos em que não se transformava em um predador sexual, o religioso da St. John;s School transmitia a imagem de um homem generoso, que ajudava a arrecadar fundos para a diocese de Milwaukee. Aos 61 anos e pai de duas filhas, Budzinski se considera hoje um homem com baixa estima, traumatizado e nervoso. "Eu estou sempre envergonhado e prefiro ficar mais recluso", contou, em entrevista exclusiva ao Correio, por telefone, mediada por sua filha Gigi. Ele não tem dúvidas de que o cardeal Joseph Ratzinger - hoje papa Bento XVI - tinha pleno conhecimento dos crimes cometidos por Murphy.

[SAIBAMAIS]O senhor acredita que o atual papa Bento XVI sabia dos abusos sexuais cometidos pelo padre Lawrence Murphy?

Eu acredito que o papa sabia do que estava acontecendo, pois ele chegou a receber cartas de arcebispos de Milwaukee. Naquela época, era sua função responder a essas denúncias. Mas ele nunca respondeu a elas. É claro que ele sabia, por causa das cartas enviadas ao Vaticano. Eu me encontrei pessoalmente com o arcebispo de Milwaukee, em 1974, e dois membros do Vaticano estavam lá. Eles confrontaram Murphy sobre as alegações de que havia nos molestado e mesmo assim nada fizeram.

O que o senhor enfrentou enquanto aluno da St. John;s School for the Deaf?
Eu fui molestado três vezes quando estive na St. John;s School for the Deaf (Escola São João para os surdos). A primeira vez aconteceu quando eu tinha 12 anos. Eu perguntei ao padre Murphy se eu poderia fazer uma confissão. Ele me levou para dentro de seu closet e me molestou. Aos 13 anos, entrei no escritório dele para fazer uma pergunta e para me confessar de novo. Ele me levou até o banheiro anexo ao seu escritório. Molestou-me pela segunda vez. E quando eu tinha 14 anos, eu estava dormindo e abusou de mim, em minha cama.

À exceção desses momentos de agressão sexual, que imagens o padre Murphy procurava transmitir às pessoas?
Todo mundo achava o padre Murphy um grande homem. Isso porque ele era o único capaz de usar a linguagem de sinais conosco. Era o único que sabia se comunicar conosco. Era um homem muito amigável.

Como o senhor vê tantos escândalos de pedofilia na Igreja Católica?
Eu não fiquei surpreso com esses casos, pois vi a forma com que a Igreja lidou com os abusos sofridos por mim. A Igreja não pareceu se importar com isso. É como se a Igreja procurasse acobertar os casos.

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