Agência France-Presse
postado em 30/03/2010 10:17
Moscou estava de luto nesta terça-feira (30/3) pelos 39 mortos no duplo atentado suicida executado na véspera no metrô e as autoridades, muito criticadas pela política de segurança, investigavam as pistas das "viúvas negras", parentes de islamitas mortos nos conflitos do Cáucaso.
[SAIBAMAIS]O presidente Dmitri Medvedev pediu que a legislação terrorista seja reforçada. "Temos que concentrar nossa atenção em melhorar a legislação relativa à prevenção de ações terroristas e à eficiência do trabalho dos organismos (governamentais)", afirmou.
Os moscovitas levaram flores às estações de metrô Lubianka e Park Kultury, no centro da capital, onde duas mulheres acionaram as cargas explosivas que transportavam em uma hora de pico da manhã de segunda-feira matando 39 pessoas e ferindo 64.
Uma vigília de orações foi organizada para o meio-dia pela Igreja Ortodoxa em memória das vítimas na catedral do Cristo Salvador, maior estabelecimento religioso de Moscou.
Durante o dia de luto, decretado pela Prefeitura, as bandeiras foram hasteadas a meio pau e os teatros e redes de televisão cancelaram suas programações de entretenimento.
Vários policiais foram mobilizados no metrô da capital, o que não impediu a imprensa de acusar o governo do primeiro-ministro Vladimir Putin de ter fracassado em prevenir os atentados, atribuídos pelas autoridades aos insurgentes islamitas do Cáucaso russo.
"Nos últimos anos, as autoridades e as redes de televisão públicas (pró-Kremlin) levaram os russos a acreditar que o terrorismo estava localizado no Cáucaso Norte e não ameaçava os cidadãos", indicou o jornal Vedomosti.
Desde os anos 90, Moscou foi sacudida várias vezes por violentas explosões, mas o último grande ataque no metrô - 41 mortos e 250 feridos - foi registrado em fevereiro de 2004.
Os atentados executados na segunda-feira pelas duas mulheres comoveram o país, lembrando os trágicos dias, há menos de uma década, em que várias terroristas suicidas, chamadas de "viúvas negras", praticaram uma série de ataques mortais.
O nome "viúvas negras" se deve ao fato de muitas dessas mulheres serem parentes de homens mortos em operações das forças de segurança nas repúblicas russas do Cáucaso Norte - região de maioria muçulmana assolada por uma violenta insurgência - e terem se tornado terroristas suicidas para se vingarem das autoridades de Moscou.
Os atentados não foram reivindicados até o momento, mas um grupo islamita dirigido pelo líder rebelde checheno Doku Umarov havia recentemente convocado seus seguidores a atacar a capital russa.
Segundo fontes da investigação citadas pelo diário Kommersant, um líder islamita ligado a Umarov - Alexander Tijomirov, conhecido também como Said Buriatski - morto em uma operação militar russa no início de março, havia recrutado e treinado 30 potenciais suicidas na Ingushétia e na Chechênia.
O presidente checheno, aliado do Kremlin, Ramzan Kadirov, declarou nesta terça-feira que "os terroristas devem ser caçados e (...) envenenados como ratos".
Os investigadores do Ministério Público russo lançaram uma convocação a todas as testemunhas dos atentados, ressaltando que "qualquer informação é importante" para a investigação.
Segundo uma fonte dos serviços de segurança, a polícia busca três cúmplices das duas terroristas.
O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, afirmou que não descarta uma pista estrangeira.
"Todos nós sabemos que há terroristas clandestinos muito ativos na fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão. Sabemos que vários atentados são preparados para ser cometidos não apenas no Afeganistão, como também em outros países. Em alguns casos, estes itinerários vão até o Cáucaso russo", disse o ministro.