postado em 31/03/2010 08:57
Às 17h45 de ontem (19h45 em Brasília), o professor de geografia Gustavo Moncayo e a mulher, Maria Estela Cabrera, correram em direção ao helicóptero brasileiro assim que a hélice foi desativada e as portas se abriram. Carregavam flores brancas, um presente para o filho, de quem estavam separados havia 12 anos e 3 meses. No uniforme militar camuflado, o sargento Pablo Emilio Moncayo, 31 anos, estava visivelmente emocionado, mas conteve as lágrimas ao receber o carinho dos pais. Gustavo mostrou-lhe as mãos acorrentadas ; um símbolo de protesto a favor dos reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia ; e acabou ;libertado; pelo filho.Pouco depois, Pablo recebeu um balão branco, foi abraçado pela senadora Piedad Córdoba e bateu continência para oficiais da Colômbia. Horas antes, confessou que não sabia como os pais e irmãos reagiriam, depois de tanto tempo separados dele. ;Não imagino qual será a alegria da minha família ao me ver depois de tantos anos;, disse o militar, sequestrado pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), em 21 de dezembro de 1997, em um vídeo (1)divulgado pela rede de TV Telesul. O tão esperado reencontro ocorreu no aeroporto de Florencia, 580km ao sul de Bogotá.
Até que Pablo pisasse em terra firme e os abraçasse, os familiares do rapaz viveram momentos de angústia. De acordo com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), o mau tempo atrapalhou o retorno da aeronave com o ex-refém da guerrilha. A forte chuva que caiu no departamento (estado) de Caquetá também atrasou em duas horas a decolagem da aeronave, ainda no início da operação. O helicóptero só pôde partir às 11h16 (13h16 em Brasília) para o local na selva da Colômbia onde o sargento foi libertado. Bogotá chegou a propor que a missão humanitária fosse adiada para hoje, mas o coronel brasileiro Carlos Aguiar, piloto de um dos helicópteros usados na operação, garantiu que havia sido treinado para atuar em situações de alto risco.
Além de Piedad Córdoba, principal mediadora entre o governo do presidente Álvaro Uribe e a guerrilha, a missão foi composta pelo bispo Leonardo Gómez Serna, dois delegados do CICV, um médico e seis membros da tripulação brasileira. A comissão agradeceu ao Brasil, que cedeu dois helicópteros do Exército para o resgate, pelo apoio logístico. Uribe celebrou a libertação e disse que o país recebia o sargento ;de braços abertos;. ;A Colômbia recebe com os braços abertos aqueles que regressam do cativeiro e rechaça com a maior firmeza os sequestradores;, afirmou, durante visita à cidade de Cúcuta, na fronteira com a Venezuela. O chefe de Estado também expressou sua ;gratidão; ao governo do Brasil, ao CICV e à Igreja Católica. Uribe não mencionou a organização não governamental Colombianos e Colombianas pela Paz, liderada por Córdoba.
Acordo
O próximo passo após os dois resgates é que as Farc entreguem os restos mortais do major da polícia Julián Ernesto Guevara Castro, que morreu em cativeiro. Segundo as agências de notícias internacionais, um mapa com a localização da ossada teria sido levada às autoridades pelo próprio Pablo Emilio Moncayo. As negociações para a libertação do sargento incluíam o traslado do corpo de Castro, mas a guerrilha adiou a ação, alegando haver intensas operações militares onde o major foi sepultado.
Além da entrega dos restos mortais, as Farc pretendem retomar o diálogo com Bogotá para cumprir com um acordo humanitário que libertaria os 22 militares ainda em cativeiro. Em troca, o governo soltaria centenas de rebeldes que estão detidos. No último domingo, as Farc haviam libertado o soldado Josué Daniel Calvo, que ficou sequestrado durante 11 meses. Calvo foi entregue à mesma missão que resgatou Moncayo em uma área rural do departamento de Meta.
1 - Telesul na linha de tiro
O governo colombiano reprovou ontem a divulgação das imagens de Pablo Emilio Moncayo antes de ser entregue à missão humanitária. O sargento colombiano apareceu nos vídeos da emissora Telesul usando um uniforme militar e em bom estado de saúde. Bogotá alega que as imagens violam os acordos de procedimento para a libertação de reféns sequestrados pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e acusou a Telesul de ;fazer propaganda; a favor da guerrilha.