Agência France-Presse
postado em 31/03/2010 14:36
O Daguestão, atacado nesta quarta-feira por um duplo atentado que causou 12 mortes, é uma república montanhosa do Cáucaso russo que sofre com a pobreza, com uma crescente criminalidade e com rivalidades entre clãs, ingredientes que o tornam um terreno fértil para a rebelião.Situado entre as montanhas do Cáucaso, ao sul, e a costa do Mar Cáspio, a leste, o Daguestão pode se vangloriar de uma história que data do século VIII antes de Cristo.
Mas, atualmente, esta república é considerada uma das regiões mais violentas da Rússia, afetada por uma rebelião islamita cada vez mais poderosa.
Nos últimos meses, assassinatos de líderes locais, atentados suicidas e confrontos armados nos subúrbios da capital Makhachkala se tornaram quase cotidianos.
No ano passado, o presidente russo, Dmitri Medvedev, durante uma breve visita à região após o assassinato do ministro local do Interior, reconheceu que "os clãs, os roubos e os subornos" favoreciam o recrutamento de militantes islâmicos.
Entretanto, os ataques desta quarta-feira, que causaram 12 mortes em Kizliar, no norte do Daguestão, são os mais graves desde 2002, e mostram que a rebelião é agora predominante na região.
Enquanto nos anos 1990 a militância no Cáucaso estava limitada a uma luta separatista na república vizinha de Chechênia, a insurreição se propagou agora ao Daguestão e a outras regiões.
Mas o separatismo não é seu principal objetivo. Os militantes querem agora impor a lei da charia em toda a região, que batizaram de "Emirado do Cáucaso".
Segundo especialistas, integrantes dos grupos rebeldes islamitas dizimados pelas operações militares do "homem forte" da Chechênia, Ramzan Kadyrov, saíram de suas bases e foram para os bosques e vales do Daguestão e de Ingushetia.
"Uma chama islamita se propagou por todas as repúblicas do Cáucaso Norte, salvo na Chechênia, onde a luta contra os rebeldes é considerada um sucesso graças a Kadyrov", declarou Yulia Latynia, especialista na região.
[SAIBAMAIS]"Os rebeldes seguem se sentindo rejeitados na Chechênia, mas nas outras repúblicas estão bem adaptados, ali obtêm dinheiro dos políticos e empresários", acrescenta.
Como as disputas entre criminosos e entre clãs torna complicada a tarefa de governar essa república, Medvedev nomeou em fevereiro um novo presidente local para substituir Mukhu Aliev, por medo de que ele não tivesse força suficiente para controlar a desordem.