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Oposição questiona Celso Amorim no Senado

postado em 07/04/2010 08:29
A Comissão de Relações Exteriores do Senado serviu de prévia para a oposição treinar seus argumentos de olho na campanha eleitoral. As críticas à política externa do governo Lula prometem ocupar lugar de destaque, como demonstrou o "duelo" entre o chanceler Celso Amorim e o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), na audiência pública desta terça-feira (6/4). [SAIBAMAIS]Chamado a explicar a posição brasileira sobre o programa nuclear iraniano, as relações com Cuba e a suposta decisão de comprar caças franceses, Amorim acabou sendo questionado sobre o trabalho dos últimos oitos anos à frente do Itamaraty. O senador oposicionista mencionou desde a falta de apoio do governo a candidatos brasileiros em instituições internacionais, como Unesco e BID, até as decisões de Amorim em relação à crise política em Honduras e aos atritos comerciais com o Equador, a Argentina e o Paraguai. Virgílio também apontou condescendência de Lula com regimes autoritários, como os de Cuba(1), Coreia do Norte, Irã, Venezuela e Sudão. "Não conheço nenhum presidente que não tenha apertado a mão de ditadores", respondeu Amorim. Virgílio sugeriu que Lula, quando apertar a mão, também peça ao "hermanito" Raúl Castro que "abra o sistema ditatorial" cubano. Já o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) destacou que o Brasil tinha adotado uma postura pró-Irã e seguia para uma posição de "isolamento", uma vez que as principais potências ocidentais optaram pela imposição de sanções contra o programa iraniano de enriquecimento de urânio a 20%. "Não se trata de ser pró-Irã ou contra o Irã. O Brasil é a favor da paz", ressaltou Amorim. O ministro explicou que não se trata de %u201Cingenuidade%u201D, nem de achar "que não houve coisas erradas" no Irã, mas de "ter a certeza de que o Irã não renunciará ao programa nuclear". Na opinião do chanceler, com aplicação de sanções a um regime como o de Teerã, "a tendência é radicalizar, tornar mais rígido, juntar o que está separado, a oposição e o governo ficarem juntos numa posição de intransigência, até para o governo não demonstrar que capitulou". Para Amorim, trazer o regime islâmico para as negociações no âmbito da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) é "mais interessante", pois tornaria "inviável" a construção de armas nucleares. O ministro recordou o caso do Iraque, onde a invasão americana custou milhares de vidas, sem que jamais se tenha comprovado a existência de armas de destruição em massa. Eleições O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) criticou o governo pelo fato de o Brasil não ter alcançado ainda uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU nem ter concluído as negociações da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). Ao interromper o senador para afirmar que esses objetivos não eram somente do governo Lula, Amorim acabou revelando sua preferência pela candidata à presidência pelo PT, Dilma Roussef. "Esses objetivos já eram de antes, foram nossos e quem for eleito, espero que seja minha candidata...", disse. Tasso aproveitou a deixa para alfinetar as escolhas políticas do chanceler. "Se fosse no governo anterior, o seu candidato seria o Serra", disse o senador, recordando que Amorim votou em Serra em 2002 e poderia ser convidado para chanceler do governo tucano. Amorim disse ter "muito orgulho" dos cargos que ocupou no governo Fernando Henrique Cardoso e defendeu que os objetivos da política externa brasileira seriam os mesmos com Dilma ou Serra no Planalto. Tasso não se deu por satisfeito e ironizou: "Seu neopetismo é realmente comovente". 1 - Indicações bloqueadas As últimas movimentações de peças na diplomacia brasileira estão sendo retardadas pela estratégia de obstrução adotada pelos oposicionistas na Comissão de Relações Exteriores do Senado. Por iniciativa do tucano Eduardo Azeredo (MG), nenhuma indicação de diplomatas para postos no exterior está sendo examinada, em protesto contra a recusa do governo Lula a questionar publicamente o regime cubano pela intransigência em relação aos dissidentes. O bloqueio tomou forma depois que o preso político Orlando Zapata morreu em greve de fome, no mesmo dia em que Lula desembarcou em Havana, no mês passado. A irritação da oposição aumentou depois que o presidente, de volta ao Brasil, comparou os opositores do regime a criminosos comuns.

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