Agência France-Presse
postado em 16/04/2010 15:04
A paralisia do tráfego aéreo em grande parte da Europa pela nuvem de cinzas vulcânicas procedente da Islândia deverá ter um impacto financeiro limitado no setor da aviação comercial, informaram nesta sexta-feira analistas, advertindo, no entanto, sobre os riscos da prolongação dessa situação.O bloqueio parcial do tráfico fazia as ações das companhias aéreas caírem nas bolsas europeias, ainda que nenhuma empresa do Velho Continente - Air France-KLM, British Airways ou Lufthansa - tenha revelado o custo do cancelamento de centenas de voos desde quinta-feira.
Segundo a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), a paralisia do tráfego aéreo custa mais de 200 milhões de dólares diários ao setor. "Com esses níveis de interrupção (de voos), a estimativa inicial e conservadora da IATA sobre o impacto financeiro nas companhias aéreas é de uns 200 milhões de dólares diários em bilhetes perdidos", disse o porta-voz da associação, Anthony Concil.
Os especialistas apontam a dificuldade para estimar esses montantes quando ainda não se sabe o número de viajantes que exigirá o reembolso integral de seu bilhete - uma perda de receita para as companhias -, em vez de adiar o voo. "Enquanto não tivermos visibilidade sobre a duração dessas perturbações, é difícil dizer qual será o custo para as companhias", afirmou Marina Devitt, da corretora Goodbody, em Dublin.
Uma forma de calcular seria considerar os lucros de uma companhia aérea em um ano e dividi-los por 365, afirma um especialista parisiense.
A partir desse cálculo, "para a Air France-KLM, uma paralisia total do tráfego durante um dia custa em torno de 30 milhões de euros (em torno de 40 milhões de dólares); para a British Airways, são 25 milhões", completa outro analista em Paris.
A nuvem de cinzas vulcânicas poderá custar em torno de 50 milhões de euros diários para o setor aéreo na Alemanha e "menos de 10 milhões de euros por dia" à Lufthansa, afirmou, por sua vez, Per-Ola Hellgren, analista do banco LBBW.
Esse montante é muito inferior ao custo de um dia da greve de pilotos da companhia alemã em fevereiro, que tinha custado à Lufthansa 48 milhões de euros.
A companhia finlandesa Finnair informou nesta sexta-feira que a interrupção de seus voos lhe custará 2 milhões de euros diários.
Um porta-voz da companhia escandinava SAS negou-se em dar uma estimativa do impacto financeiro para o grupo, que tem a maior parte de suas atividades na região nórdica, mas confirmou que o faturamento diário da companhia aérea é de em torno de 10,5 milhões de euros.
De toda forma, as companhias recuperarão uma parte dessas receitas perdidas na medida em que a taxa de ocupação dos aviões subirá ao topo quando o tráfego for retomado. Habitualmente, essa taxa é da ordem de 75% e um pouco menor para as companhias de baixo custo.
Com aviões em terra, as companhias economizam com combustíveis. "O impacto pontual sobre as receitas (da irlandesa Ryanair) deverá ser fraco na medida em que a maior parte dos custos de operação serão evitados, com a exceção do aluguel de aviões e custos salariais", afirmou a corretora NCB, de Dublin.
[SAIBAMAIS]As companhias aéreas europeias criticaram nesta sexta-feira a falta de coordenação entre os países para gerir o caos aéreo que reina no continente, antecipando prejuízos "enormes" para a economia da Europa Ocidental.
A Associação das Companhias Aéreas Europeias (AEA, da sigla em inglês) observa "com preocupação as diferentes reações das autoridades nacionais" à gigantesca nuvem de cinzas, afirmou seu secretário-geral, Ulrich Schulte-Strathaus, em comunicado.
Enquanto as normas da Organização Internacional de Aviação Civil (ICAO) são "claras", os governos "parecem interpretar sua aplicação de forma diferente", afirmou, em alusão às decisões que cada país está tomando sobre o fechamento ou a reabertura de seus espaços aéreos.
Schulte-Strathaus defendeu que "no interesse das companhias e dos passageiros", a União Europeia deve aplicar de forma coordenada critérios comuns "para que se possa reestabelecer a normalidade o quanto antes", evitando uma "reação exagerada" ao fenômeno.