Agência France-Presse
postado em 19/04/2010 18:16
O Papa Bento XVI admitiu aos cardeais do mundo todo que foram prestigiá-lo, no Vaticano, nesta segunda-feira (19/4), que comanda uma Igreja "ferida e pecadora", na data em que completa cinco anos de um pontificado tumultuado, mais recentemente marcado por escândalos de pedofilia envolvendo padres.O Pontífice "evocou os pecados da Igreja" perante 50 cardeais reunidos para celebrar o aniversário, informou o jornal oficial da Santa Sé, L;Osservatore Romano.
O Vaticano e a Igreja italiana manifestaram solidariedade a Bento XVI, nesta segunda-feira, feriado no Vaticano, que marca a eleição do sucessor de João Paulo II.
Os cardeais presentes no evento almoçaram com Bento XVI demonstrando seu apoio, após a série de revelações nos últimos meses de abusos cometidos por padres e religiosos e após as críticas contra a "omertà" no seio da Igreja - omertà é uma palavra de etimologia italiana, que significa "conspiração".
O papa confiou aos prelados que "sente fortemente que não está sozinho, que tem a seu lado todo o colégio de cardeais, que partilha com ele vicissitudes e reconforto", afirmou l;Osservatore Romano.
Fazendo referência indiretamente aos escândalos de pedofilia, o jornal do Vaticano acrescentou: o papa "evocou os pecados da Igreja, lembrando que esta, ferida e pecadora, experimenta ainda mais a consolação de Deus".
O mais velho dos cardeais, Monsenhor Angelo Sodano, afirmou por sua vez que o colégio dos cardeais, que conta 181 membros (entre eles 108 eleitores em caso de conclave, instância que elege o papa), "é uma grande família, sempre unida ao sucessor de Pedro e preocupada em viver num espírito de comunhão fraternal". Agradeceu a Bento XVI a "grande generosidade" demonstrada no exercício de sua função, desejando que continue assum durante "longos anos", registrou a Rádio Vaticano.
Nesta segunda-feira, em toda a Itália, os católicos foram convidados pela conferência episcopal nacional a manifestar pela prece sua "proximidade" com o chefe da Igreja que completou na sexta-feira 83 anos.
O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, também tomou a defesa deste pontificado controverso. Afirmou à Rádio Vaticano que as "prioridades reais" definidas por Bento XVI após sua eleição - principalmente a preocupação em responder "ao pedido de ajuda da sociedade atual" e o "diálogo aberto e sincero" com outras religiões - vêm sendo "realizadas com coerência e coragem num contexto não livre de tensões e obstáculos".
O quinto aniversário do pontificado de Bento XVI se desenvolve em plena tormenta na Igreja, com a multiplicação de revelações sobre abusos cometidos pelo clero na Europa e nos Estados Unidos, que respingaram no papa, em pessoa, acusado na Alemanha e nos Estados Unidos de ter acobertado estes crimes.
Se seus cinco anos foram periodicamente pontuados de crises, com os muçulmanos, os judeus, o mundo político e mesmo setores progressistas da Igreja católica, esta questão da pedofilia é, de longe, a mais grave porque "não se trata de pecados isolados, mas do pecado institucional do silêncio", afirma o vaticanista Marco Politi, comentarista do jornal Il Fatto (esquerda).
O aniversário acontece no dia seguinte da primeira viagem do ano de Bento XVI fora da Itália, que também foi pontuada por escândalos de pedofilia.
O papa voltou na noite de domingo de uma visita de 26 horas a Malta, onde foram recentemente denunciados casos de abuso sexual por homens da Igreja. Bento XVI encontrou-se, a seu pedido, com oito vítimas maltesas, chorando e rezando com elas.