Agência France-Presse
postado em 19/04/2010 20:19
Mais de 15 mil pessoas - entre indígenas, cientistas, personalidades do cinema e presidentes de cinco países - são aguardadas nesta terça-feira (20/4), na Bolívia, para uma cúpula mundial sobre o clima, com propostas para a criação de um tribunal de justiça ambiental e um referendo para exigir medidas a favor da ecologia.O fórum se celebra tendo como pano de fundo as dificuldades nas negociações sobre o clima após o fiasco da Cúpula Climática da ONU (COP15), celebrada em dezembro passado, em Copenhague, e com a perspectiva da próxima edição do encontro climático das Nações Unidas (COP16), prevista para o fim deste ano, no México.
Para a Bolívia, que se apresenta como epicentro da mobilização a favor da ;Pachamama; (a Terra mãe), "a única forma de pôr nos trilhos as negociações sobre o clima é associar a sociedade civil ao processo", afirma o embaixador boliviano na ONU, Pablo Solón.
"Temos uma agenda distribuída em 17 meses de trabalho, com vários temas, para buscar o respeito dos direitos da mãe Terra", disse esta segunda-feira à AFP Pablo Groux, coordenador da cúpula, que será celebrada entre terça e quinta-feira nos arredores de Cochabamba (centro).
O presidente Evo Morales, indígena de tendência esquerdista, é o principal promotor do encontro, ao qual estarão presentes 15 mil pessoas de 129 países e delegações governamentais de 40 nações, além de personalidades, cientistas e artistas.
Segundo o chefe de Estado, a conferência boliviana debaterá a criação de "uma organização paralela às Nações Unidas" para defender a Terra dos efeitos devastadores do aquecimento global.
No entanto, esclareceu que não pretende dividir a ONU, mas sim "fazer uma nova estrutura, uma nova organização com os movimentos sociais para defender os direitos da mãe Terra", acrescentou.
O governo boliviano mencionou que outros dois assuntos em pauta serão a organização de um referendo mundial e a constituição de um tribunal de justiça sobre o meio ambiente que julgaria os países quando causarem danos à natureza.
A consulta mundial que a Bolívia proporá - e que alguns observadores consideram pouco realista - buscaria exigir dos governos que a temperatura do mundo não subisse acima de 1; centígrado e que todos os orçamentos militares sejam transferidos à defesa do meio ambiente, entre outros pontos.
Morales teve a iniciativa de propor o encontro, após considerar insuficientes os acordos em Copenhague entre Estados Unidos, a União Europeia, China, Índia, Brasil e África do Sul.
A conferência climática boliviana visa a que os movimentos sociais e povos indígenas elaborem uma série de propostas que serão levadas à próxima cúpula climática da ONU.
O embaixador Solón explicou no fim de semana que existe a possibilidade de que todas as conclusões do encontro sejam enviadas à Cúpula do México e que sejam incorporadas às agendas das deliberações intergovernamentais.
Sobre os participantes, a chancelaria boliviana confirmou no domingo que acompanharão o presidente Morales seus colegas e aliados políticos Hugo Chávez (Venezuela), Fernando Lugo (Paraguai), Rafael Correa (Equador) e Daniel Ortega (Nicarágua).
Além de aborígenes e organizações civis, participarão do encontro - segundo a chancelaria boliviana - personalidades como Jim Hansen (cientista da Nasa), Vandana Shiva (ativista indiana), Naomi Klein (autora do livro ;No Logo;), Eduardo Galeano (escritor uruguaio), Adolfo Pérez Esquivel (argentino, Prêmio Nobel da Paz em 1980), o ativista francês José Bové e o brasileiro Frei Betto.
Também foram convidados o diretor de cinema americano James Cameron e o ator Danny Glover, cuja presença ainda não foi confirmada.
A conferência se encerrará na quinta-feira com a aprovação pública de todas as conclusões e uma festa folclórica no estádio de Cochabamba, com capacidade para 35 mil pessoas.