Agência France-Presse
postado em 20/04/2010 19:44
O último ditador argentino, general Reynaldo Bignone (1982-1983), 82 anos, foi condenado nesta terça-feira (20/4) a 25 anos de prisão por detenção ilegal e tortura de 56 presos políticos, entre outros crimes de lesa humanidade.Outros cinco ex-comandantes da ditadura militar (1976-1983), cúmplices de Bignone nos crimes cometidos no Campo de Mayo, o maior quartel do Exército localizado na periferia de Buenos Aires, receberam penas de 17 a 25 anos de prisão.
O militares punidos são o ex-comandante do Instituto Militar, general Santiago Riveros; o ex-chefe da Inteligência de Campo de Mayo, general Fernando Verplaetsen, e os generais Carlos Tepedino, Jorge García e Eugenio Guañabens Perelló. O tribunal absolveu o ex-policial Germán Montenegro.
"Como os nazistas, vai acontecer o mesmo, para onde forem, iremos buscar", cantaram em coro dezenas de familiares e ativistas de direitos humanos, no fim da audiência, quando o Tribunal anunciou que as penas seriam cumpridas em cadeias comuns, sem o benefício da prisão domiciliar.
"Era isso que queríamos, prisão comum", disse à AFP Elia Espen, uma Mãe da Praça de Maio, cujo filho desaparecido chama-se Hugo Miedan.
Os presentes romperam o silêncio que dominou a leitura da sentença, para aplaudir as condenações ditadas contra Bignone e outro grupo de ex-comandantes, em um tribunal da periferia oeste de Buenos Aires, onde foram levantadas fotografias das 56 vítimas.
"A Justiça chega tarde, mas chega", disse Estela de Carlotto, presidente da organização de direitos humanos Avós da Praça de Maio, em meio a abraços e lágrimas. Centenas de manifestantes com bandeiras e cartazes comemoravam nas ruas.
Os crimes ocorreram entre 1976 e 1978, quando Bignone chefiava a guarnição do Campo de Mayo, cujas masmorras chegaram a manter 4.000 opositores ao regime, incluindo muitos desaparecidos. O Campo de Mayo também abrigou uma maternidade clandestina que permitiu o roubo de bebês e a mudança de suas identidades para que as crianças fossem entregues a outras famílias.
Bignone assumiu o poder em 1982, após a derrota militar contra a Grã-Bretanha nas Ilhas Malvinas, e entregou o governo em dezembro de 1983, a Raúl Alfonsín, primeiro presidente eleito após o retorno à democracia, morto há um ano.
Durante o julgamento, que começou em novembro passado, 100 testemunhas foram ouvidas, entre elas Héctor Ratto, sobrevivente do centro de torturas e ex-trabalhador da montadora alemã Mercedes-Benz, que acusou a empresa de ser cúmplice do regime.
Por falta de espaço, o processo foi realizado em um galpão de uma associação da cidade de Munro.
"É preferível a condenação que o repúdio de meus superiores e subalternos, que junto comigo combateram os horrores dessa guerra contra o terrorismo", afirmou Bignone aos juízes em sua extensa declaração antes da sentença.
Diante dos juízes, Bignone voltou a admitir que o regime fez milhares de pessoas desaparecerem, ainda que não tenha mencionado a cifra de 30.000, estimada pelos órgãos de defesa dos direitos humanos, e reiterou que não foram "mais de 8.000".
No entanto, disse que foram 30 os casos dos bebês roubados e entregues a outras famílias, apesar de a Justiça calcular esse número em 500, dos quais 101 recuperaram sua identidade.