Agência France-Presse
postado em 22/04/2010 11:22
Vladimir Ilitch Lênin, fundador da União Soviética para os mais antigos ou apenas uma estátua para os mais jovens, que nasceu há exatos 140 anos, cai cada vez mais no esquecimento e dá espaço a Stalin, símbolo da autoridade do Estado, um tema atual na Rússia há uma década.Em menos de 20 anos, o número de russos que apontam Lênin como a "personalidade mais notável do mundo" caiu de 72% a 34%, segundo centro russo independente de pesquisas Levada.
Paralelamente, três vezes mais de rusos (36% contra 12%) dão a Josef Stalin o título de sucessor de Lênin.
"Stalin simboliza as conquistas do império soviético e por isto seduz os russos mais que Lênin, do qual ainda existem mais de 16.500 estátuas na Rússia", explica Denis Volkov, sociólogo do Centro Levada.
A partir de 2000, com a chegada ao poder de Vladimir Putin - que buscava afirmar sua autoridad após os tumultuados anos 1990 - a popularidade de Stalin aumentou, em detrimento de Lênin, cujo corpo embalsamado permanece em mausoléu ao pé do Kremlin.
"A propaganda estatal abandonou Lênin, dando preferência a Stalin, apresentado como um líder mais forte e responsável pela vitória dos soviéticos sobre os nazistas, acontecimento positivo que é, de longe, o mais importante do século passado para os russos", completa o sociólogo.
"Mas a oposição entre os dois tiranos é artificial", ressalta Valeri Jomiakov, diretor geral da ONG Conselho da Estratégia Nacional.
Para ele, "Lênin é o autor do terror vermelho que ordenou execuções e massa e preparou os crimes do stalinismo".
Mas até o fim da União Soviética em 1991, a reputação do pai da revolução bolchevique permaneceu inalterada, ao contrário de Stalin, que teve o culto a sua personalidade denunciado em várias oportunidades após a morte em 1953.
No ensino fundamental, as crianças soviéticas memorizavam poemas sobre o "avô Lênin", exemplo de sobriedade e de altruísmo, sob imagens de quando o líder político ainda era um bebê.
Na universidade, o quebra-cabeça era o eterno enigma do regime, que afirmava que Lênin, falecido em 1924, estava "mais vivo que todos os vivos", ou aprendiam que o exame do cérebro do ditador, cuidadosamente conservado, permitia explicar de "onde vinha sua genialidade".
"A perestroika destronou Lênin", destaca cientista político Gleb Pavlovski.
"A nova Rússia não queria mais que suas origens remontassem à Revolução de 1917 e queria esquecer Lênin", explica.
Revolucionário, antimonarquista, ateu ferrenho e internacionalista, Lênin não mobiliza as massas na Rússia, ao contrário de Stalin, imagem de um Estado nacional forte, segundo Pavlovski, que é ligado ao Kremlin.
"Com a aproximação das eleição presidencial (em 2012), os partidários de Putin (atual primeiro-ministro) cultivarão ainda mais a imagem de Stalin, e a de Lênin vai caindo no esquecimento", prevê Jomiakov.
Se a retirada do corpo da Praça Vermelha e a exumação ainda provoca debates acirrados, Lênin parece ter sido definitivamente enterrado pelos jovens.
"Lênin é uma estátua perto de nosso armazém", escreve Dacha, que está no primeiro ano do curso primário, durante um teste escrito organizado recentemente em uma escola moscovita. Para Tania, é um "homem com um gorro" e para Alexander "um cosmonauta".